quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Quando ela passa

Quando Ela Passa - Catulo da Paixão Cearense e Mário Alves

Quando ela passa
A caminho da choça do monte
Lá no horizonte
A ascensão do luar
Pela aldeia vem se derramar
Geme a fonte
E as minhas mágoas vêm vê-la passar
Passar cantando
Com a flor brincando
De quando em quando a suspirar

Vai bandoleira
A faceira que de mim se esquece
Até parece uma flor
Que ao luar, ao luar
Irrorada de orvalho
Do galho se desprendesse
E lá fosse a ondular
E ondulando fosse voando
De quando em quando a suspirar

Deixa em seu rastro o odor
Do rescendente sassafrás em flor
Deixa onde passa o olvido
O aroma de um coração ferido
Geme a viola então
Em meio da solidão do sertão calado
Um canto apaixonado, aveludado
De suspiros do coração

Se ao longe um lacrimal
Desliza sobre a areia de cristal
Descalça o pé dengoso
E o riozinho estremece airoso
E todo dia a se arrufar
Não quer mais deslizar
No planger fluente
Quer essa flor virente
Nas madeixas da corrente
Leva, levar

Quando amanhece
E à porta da choça aparece
Acorda a flor que umedece
O frescor que é tão grato
Acorda o regato e no mato
Acorda a rola em seu ninho de amor
Acorda a fonte, o horizonte
E lá no monte o trovador

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