quinta-feira, 20 de julho de 2006

Como nossos pais

Um dos mais destacados integrantes de um grupo de artistas cearenses que, como foi dito, veio tentar a sorte no eixo Rio-São Paulo no início dos anos setenta é o cantor/compositor Belchior (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes). Ex-universitário, que abandonou o curso de medicina para se dedicar à música, Belchior estrearia no Rio em 1971, ganhando o IV Festival Universitário de Música Popular Brasileira com a composição “Na Hora do Almoço”.

Então, depois de um segundo êxito no ano seguinte (a canção “Mucuripe”, com Fagner), esperaria um bom tempo para chegar, com o elepê Alucinação, novamente às paradas de sucesso. Considerado por ele como “um disco de um nordestino na cidade grande”, este elepê lançou além do sucesso “Como Nossos Pais”, também gravado por Elis Regina, pelo menos mais duas composições fortes — “Apenas um Rapaz Latino Americano” e “A Palo Seco” —, o que resultou numa vendagem de trinta mil cópias em um mês.

Uma canção irônica e discursiva, “Como Nossos Pais” critica a acomodação dos jovens diante dos problemas da vida, que Belchior canta de forma agressiva com sua voz veemente: “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos / (...) / ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...” Esta canção passou incólume, mas o autor teve que modificar outras músicas do disco para obter a aprovação da censura (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Como nossos pais (1976) - Belchior

      Gbm
Não quero lhe falar meu grande amor
B7
Das coisas que aprendi nos discos.
E
Quero lhe contar como eu vivi
A Gbm
E tudo que aconteceu comigo. Viver é melhor que sonhar
B7 E
E eu sei que o amor é urna coisa boa, mas também sei
A
Que qualquer canto é menor que a vida de qualquer pessoa
Bm7
Por isso cuidado meu bem há perigos na esquina
E
Eles venceram e o sinal está fechado
A
pra nós que somos jovens
D
Para poder abraçar meu irmão e beijar minha menina,
na rua
E A A7
É que se fez o meu lábio, o meu braço, e a minha voz
D A
Você me pergunta pela minha paixão
D A
Digo que estou encantado com urna nova invenção
D A
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
D A
Pois vejo vir vindo no vento, o cheiro da nova estação
D E E7
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
A D
Já faz tempo eu vi você na rua,
A D
cabelo ao vento gente jovem reunida
A D E
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que
dói mais
A D A
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo,
D
tudo que fizemos
A D
Ainda somos os mesmos e vivemos,
A D
ainda somos os mesmos e vivemos
E E7
Como nossos pais
A D
Nossos ídolos ainda são os mesmos
A D A
E as aparências não enganam não. Você diz
que depois deles
D E E7 A
Não apareceu mais ninguém. Você pode até dizer
D A D
Que eu estou por fora ou então que eu estou inventando
A D
Mas é você que ama o passado e que não vê
A
É você que é ama o passado
D E
e que não vê que o novo sempre vem
A D
Hoje eu sei que quem me deu a idéia
A D
De uma nova consciência e juventude,
A D
está em casa guardada por Deus
E
Contado os seus metais
A D A
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo,
D
tudo que fizemos
A D
Ainda somos os mesmos e vivemos,
A D
ainda somos os mesmos e vivemos
E (E D A)
Como nossos pais

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