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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Luiz Heitor

Luiz Heitor
Luiz Heitor (Luiz Heitor Correa de Azevedo), musicólogo e folclorista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13/12/1905, e faleceu em Paris, França, em 10/11/1992. Iniciou estudos musicais em 1923, no I.N.M., onde foi aluno de piano de Alfredo Bevilacqua (de 1924 a 1925) e de Charley Lachmund (de 1927 a 1928). Estudou harmonia, contraponto e fuga com Paulo Silva.


Escreveu nos jornais O Imparcial (1928-1929) e A Ordem (1929-1930), do Rio de Janeiro, e colaborou em diversas publicações especializadas, nacionais e estrangeiras. Ao lado de Luciano Gallet, Lorenzo Fernandez, Antonieta de Sousa e outros, em 1930 fundou a Associação Brasileira de Música, da qual foi secretário até 1933, e presidente em 1934 e 1935.

Em 1932 sucedeu a Guilherme de Melo no cargo de bibliotecário do I.N.M. De 1932 a 1936 organizou e publicou o Arquivo de Música Brasileira, e de 1934 a 1942 organizou e dirigiu a Revista Brasileira de Música. Com Agostinho de Almeida, fundou a Associação dos Admiradores de Francisco Manuel, sendo seu presidente até 1947.

Em 1937, com Luís Gonzaga Botelho e outros, foi o fundador da Sociedade Pró-Música que, além de manter uma orquestra, promovia concertos e concursos.

Em 1939 tornou-se o primeiro ocupante da cátedra de folclore nacional da então E.N.M.U.B., atual E.M.U.F.R.J. Dois anos depois foi convidado pela União Pan-Americana para exercer as funções de consultor da sua divisão de música, em Washington D C, EUA. Nos seis meses que aí passou, participou de congressos e realizou conferências.

Em 1943 fundou, na E N.M.U.B., o primeiro centro de pesquisas folclóricas do país. Colaborou na seção de música da revista Cultura Política, de 1941 a 1945. Em 1944 e 1945 escreveu folhetins e artigos sobre música no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro.

De 1945 a 1948 foi membro da Comissão Nacional do Livro Didático. Em 1947 foi convidado para dirigir os serviços de música da UNESCO, transferindo-se para Paris, França. Nesse cargo, foi o responsável pela criação do Conselho Internacional de Música e pela publicação da série Archives de la musique enregistrée.

Com a criação do Instituto de Altos Estudos da América Latina, na Universidade de Paris, de 1954 a 1958 realizou uma série de cursos sobre históría da música. Aposentou-se pela UNESCO em fins de 1965 e pela E.M.U.F.R.J. em junho de 1967.

Membro da Academia Nacional de Música desde sua criação, em 1967, esteve nos EUA como professor visitante da Universidade de Tulane, em New Orleans (1967-1968) e da Universidade de Indiana, em Bloomington (1969).

A partir de 1969 foi membro do Conselho Internacional de Música, tendo pertencido ao seu comitê executivo, com sede em Paris, onde faleceu.

Publicou, entre outras obras, Dois pequenos estudos de folclore musical, Rio de Janeiro, 1938; Escala, ritmo e melodia na música dos índios brasileiros, Rio de Janeiro, 1938; Relação das óperas de autores brasileiros, Rio de Janeiro, 1938; A música brasileira e seus fundamentos, Washington, 1948; Música do tempo desta casa, Rio de Janeiro, 1950; Música e músicos do Brasil, Rio de Janeiro, 1950; Bibliografia musical brasileira (1820—1950) (em colaboração com Cléofe Person de Matos e Mercedes de Moura Reis), Rio de Janeiro, 1952; 150 anos de música no Brasil (1800—1950), Rio de Janeiro, 1956. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo -2a. Edição - 1998.

domingo, 23 de janeiro de 2011

João Simões Lopes Neto

João Simões Lopes Neto
João Simões Lopes Neto, contista, folclorista e teatrólogo, nasceu em Pelotas, RS, em 9/3/1865, e faleceu em 14/6/1916. Quando cursava o terceiro ano de medicina no Rio de Janeiro RJ, teve de abandonar os estudos, por motivo de saúde, e voltar á sua terra, onde se dedicou à indústria, comércio, corretagem e atividades intelectuais.

Em 1895 tornou-se redator do Diário Popular, de Pelotas, e no ano seguinte estava no jornal A Opinião Pública. Usou dos pseudônimos João do Sul e Serafim Bemol.

Publicou livros sobre costumes gaúchos, lendas, mitos e tradições locais — onde se destacam as danças que registrou: Cancioneiro guasca, Pelotas, 1910 (2a. ed., Pelotas, 1917; 3a. ed., Pelotas, 1928; 4a. ed., Porto Alegre, 1954); Contos gauchescos, Pelotas, 1912; Lendas do Sul, Pelotas, 1913; Casos do Romualdo foi publicado em várias edições do Correio Mercantil, de Pelotas, em 1914; a 1a. ed. em livro é de Porto Alegre, 1952. 

Em 1926, dez anos após sua morte, Contos gauchescos e Lendas do Sul foram reunidos num volume, editado em Porto Alegre, de que, em 1948, também em Porto Alegre, saiu uma edição crítica, com prefácio e notas de Augusto Meyer, introdução, variantes, notas e glossário de Aurélio Buarque de Holanda, e posfácio de Carlos Reverbel. Obra póstuma: Terra gaúcha, Porto Alegre, 1955. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. Edição - São Paulo - 1998.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Rossini Tavares de Lima

Rossini Tavares de Lima
Rossini Tavares de Lima, historiador e folclorista, nasceu em Itapetininga, SP, em 25/4/1915, e faleceu na cidade de São Paulo, SP, em 5/8/1987.

Fundou e dirigiu a extinta revista Folclore, de São Paulo, SP, participando ainda da criação do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade, vinculado ao Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, e do Museu de Artes e Técnicas Populares Mário de Andrade.

Colaborou em diversas publicações. Escreveu "Manifestações folclóricas em São Paulo" in Ernâni Silva Bruno, São Paulo — Terra e povo (Porto Alegre, 1967). 

Publicou Nótulas sobre pesquisas do folclore musical, São Paulo, 1945; Folclore nacional, São Paulo, 1946; Ai, eu entrei na roda (50 rodas infantis), São Paulo, 1947; Poesias e adivinhas, São Paulo, 1947; ABC do folclore, São Paulo, 1952 (2a ed. ampliada, São Paulo, 1958); Da conceituação do lundu, São Paulo, 1953; Melodia e ritmo no folclore de São Paulo, São Paulo, 1954 (2 ed., com o título Folclore de São Paulo (melodia e ritmo), São Paulo, 1961); Folguedos populares de São Paulo, separata, São Paulo, 1954; O folclore na obra de escritores paulistas, São Paulo, 1962; Folguedos populares do Brasil, São Paulo, 1962; O folclore do litoral norte de São Paulo, tomo I — Congadas (em colaboração), Rio de Janeiro, 1968; Romanceiro folclórico do Brasil, 1971; Folclore das festas cíclicas, São Paulo, 1971.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. Edição - 1998.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Amadeu Amaral

Amadeu Amaral
Amadeu Amaral (Amadeu Ataliba Arruda Amaral Leite Penteado), poeta, folclorista, filólogo e ensaísta, nasceu em Capivari, SP, em 6 de novembro de 1875, e faleceu em São Paulo, SP, em 24 de outubro de 1929. Eleito para a Cadeira n. 15, na vaga de Olavo Bilac, foi recebido em 14 de novembro de 1919, pelo acadêmico Magalhães Azeredo.

Foi redator-secretário do Comércio de São Paulo, diretor do Diário Nacional, redator-chefe do Diário da Noite; e em O Estado de São Paulo trabalhou até o fim da vida, só se afastando temporariamente para dirigir a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, em 1923. 

Foi também redator da revista A Farpa, entre 1910 e 1915, e depois da Vida Moderna, antes Sportman; no ano seguinte, foi um dos fundadores da Revista do Brasil, assumindo sua direção em 1921; lançou ainda, em 1929, a revista Malasarte

Foi secretário da comissão diretora do Partido Republicano nos fins do século passado e um dos fundadores da Sociedade de Cultura Artística. Dedicou seus últimos anos de vida ao folclore, incentivando seu estudo, procurando despertar interesse para a fundação de instituições e associações destinadas a pesquisar, classificar, confrontar elementos dessa atividade. 

Sobre folclore publicou: Estudos brasileiros. O dialeto caipira, São Paulo, em 1920 (2 ed., São Paulo, em 1955); A poesia da viola, São Paulo, 1921; Tradições populares (primeiro volume das Obras completas, reunindo trabalhos esparsos sobre folclore, organizado por Paulo Duarte), São Paulo, 1948. Usou dos pseudônimos de Felício Trancoso, Carlos Pinto, Maneco, Yorick, A.A., Y.

Visando à formação dos jovens, assim como Bilac incentivara o serviço militar, Amadeu Amaral procurou divulgar o escotismo, que produziu frutos, no Brasil, até ser posteriormente posto de lado.

Sua poesia enquadra-se na fase pós-parnasiana, das duas primeiras décadas do século XX. Como poeta, não estava à altura de seus dois predecessores, Gonçalves Dias e Olavo Bilac, mas destacou-se pelo desejo de contribuir, com suas obras, para a elevação de seus semelhantes, em todas as suas obras, a ponto de seu sucessor, Guilherme de Almeida, ao ser recebido na Academia, ter intitulado o seu discurso: "A poesia educativa de Amadeu Amaral", não porque tenha colocado em verso aos regras gramaticais ou os princípios de moral e cívica, mas porque visava indiretamente ao aperfeiçoamento humano.

Por ocasião do VI centenário da morte de Dante, proferiu, no Teatro Municipal de São Paulo, uma conferência, enfatizando justamente os aspectos de Dante que exaltam a elevação do espírito humano através da Sabedoria. Também soube ressaltar as qualidades morais de Bilac no seu discurso de posse, mostrando-o não apenas como um boêmio freqüentador da Confeitaria Colombo, mas como homem preocupado com os problemas da sua pátria e escritor que evoluiu em sua poesia para um grau maior de espiritualidade.

Obra

Urzes, poesia (1899); Névoa, poesia (1902); Espumas, poesia (1917); Lâmpada antiga, poesia (1924), títulos que integram as Poesias, publicadas postumamente em 1931; Letras floridas, ensaio (1920); O dialeto caipira, filologia (1920); O elogio da mediocridade, ensaio (1924); Tradições populares, folclore (1948); Obras completas de Amadeu Amaral, com prefácio de Paulo Duarte (1948).

Fonte: www.biblio.com.br; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Alceu Maynard Araújo

Alceu Maynard Araújo
Alceu Maynard Araújo, folclorista e historiador, nasceu em Piracicaba, SP, em 21/12/1913, e faleceu em São Paulo, SP, em 23/2/1974. 

Bacharel em ciências políticas e sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1944), foi um dos fundadores e instrutor-chefe do Clube dos Menores Operários da divisão de educação e recreio do Departamento de Cultura, da prefeitura municipal de São Paulo (1937—1946).

Foi chefe de pesquisas folclóricas do Departamento Estadual de Informações (1947). Dedicou-se durante vários anos à pesquisa e à coleta de material folclórico. 

Publicou Cururu, São Paulo, 1948; Danças e ritos populares de Taubaté (em colaboração com Manuel Antônio Franceschini), São Paulo, 1948; Folias-de-reis de Cunha, São Paulo, 1949; Rodas infantis de Cananéia, São Paulo, 1952; Documentário folclórico paulista, São Paulo, 1952; Instrumentos musicais e implementos, São Paulo, 1954; Literatura de cordel, São Paulo, 1955; Ciclo agrícola, calendário religioso e magias ligadas à plantação, São Paulo, 1957; Cem melodias folclóricas (em colaboração com Vicente Aricó Júnior), São Paulo, 1957; Alguns ritos mágicos, São Paulo, 1958; A congada nasceu em Roncesvales, São Paulo, 1960; Medicina rústica, São Paulo, 1961; Escorço do folclore de uma comunidade, São Paulo, 1962; Estórias e lendas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina (em colaboração com Vasco José Taborda), São Paulo, 1962; Folclore nacional, 3 volumes, São Paulo, 1964; Cultura popular brasileira, São Paulo, 1973 (2 ed., São Paulo, 1973). 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

sábado, 1 de agosto de 2009

Brasílio Itiberê II

Brasílio Itiberê (Brasílio Ferreira da Cunha Luz), compositor, folclorista, crítico e escritor, nasceu em Curitiba-PR, em 17 de maio de 1896 e faleceu no Rio de Janeiro em 10 de dezembro de 1967. Pertencente a uma família de músicos, era sobrinho do compositor Brasílio Itiberê da Cunha (autor de A Sertaneja, a primeira obra nacionalista brasileira) e do crítico musical João Itiberê da Cunha.

Formou-se em Engenharia Civil, dedicando apenas as horas de lazer à música, ao jornalismo e a escrever novelas. Como contista e cronista, teve importante atuação no modernismo, participando da revista modernista carioca Festa (1927-1935), onde publicou alguns dos mais significativos contos do modernismo brasileiro.

Em 1934, já no Rio de Janeiro, conviveu com Ernesto Nazareth, Pixinguinha e outros grandes nomes da música popular. Tornou-se grande amigo de Heitor Villa-Lobos, que, aliás, foi o responsável pela recondução de Itiberê à música.

Destacou-se sobretudo pela sua independência de criação em relação aos mestres, gerando a produção de uma obra pequena, mas de grande significação. A diferença entre a sua música e a da maioria dos músicos que acompanhou Villa-Lobos no trabalho de despertar o interesse do povo para a música nacional, reside na personalidade independente revelada em suas composições. Externou suas idéias através de uma linguagem musical própria.

Em 1939, produziu a Suíte Litúrgica Negra e o Trio nº 1. Alguns anos mais tarde compôs um dos seus trabalhos mais conhecidos, a Oração da Noite, escrito à maneira do credo russo, baseado em texto de Emiliano Perneta.

Compôs a cantata O Canto Absoluto com texto de Tasso da Silveira, o poema coral Estâncias com letra de Carlos Drummond de Andrade e Epigrama com letra de Cecília Meireles.

Estudioso do canto coral, Brasílio Itiberê criou obras corais com grande domínio de seus recursos mais genuínos: suas virtudes melódicas e a capacidade de expressão poética baseada no dom da palavra cantada.

Obra
Suíte Litúrgica Negra (1939);
Trio nº 1 (1939);
Momento eufórico;
Prelúdio vivaz; Introdução e allegro (1945);
Duplo Quinteto (1946);
O Cravo Tropical (1944); Invenção nº 1 (1934);
Poema (1936);
Seis Estudos (1936);
Ponteio para São João (1938);
Cordão de Prata (1939);
A Infinita Vigília (1941);
Oração da Noite;
O Canto Absoluto (1947), cantata;
Estâncias, poema coral;
Epigrama;
Xangô.

Fonte: http://www.geocities.com/Vienna/Strasse/8454/itibere.htm

Brasílio Itiberê II

Brasílio Itiberê (Brasílio Ferreira da Cunha Luz), compositor, folclorista, crítico e escritor, nasceu em Curitiba-PR, em 17 de maio de 1896 e faleceu no Rio de Janeiro em 10 de dezembro de 1967. Pertencente a uma família de músicos, era sobrinho do compositor Brasílio Itiberê da Cunha (autor de A Sertaneja, a primeira obra nacionalista brasileira) e do crítico musical João Itiberê da Cunha.

Formou-se em Engenharia Civil, dedicando apenas as horas de lazer à música, ao jornalismo e a escrever novelas. Como contista e cronista, teve importante atuação no modernismo, participando da revista modernista carioca Festa (1927-1935), onde publicou alguns dos mais significativos contos do modernismo brasileiro.

Em 1934, já no Rio de Janeiro, conviveu com Ernesto Nazareth, Pixinguinha e outros grandes nomes da música popular. Tornou-se grande amigo de Heitor Villa-Lobos, que, aliás, foi o responsável pela recondução de Itiberê à música.

Destacou-se sobretudo pela sua independência de criação em relação aos mestres, gerando a produção de uma obra pequena, mas de grande significação. A diferença entre a sua música e a da maioria dos músicos que acompanhou Villa-Lobos no trabalho de despertar o interesse do povo para a música nacional, reside na personalidade independente revelada em suas composições. Externou suas idéias através de uma linguagem musical própria.

Em 1939, produziu a Suíte Litúrgica Negra e o Trio nº 1. Alguns anos mais tarde compôs um dos seus trabalhos mais conhecidos, a Oração da Noite, escrito à maneira do credo russo, baseado em texto de Emiliano Perneta.

Compôs a cantata O Canto Absoluto com texto de Tasso da Silveira, o poema coral Estâncias com letra de Carlos Drummond de Andrade e Epigrama com letra de Cecília Meireles.

Estudioso do canto coral, Brasílio Itiberê criou obras corais com grande domínio de seus recursos mais genuínos: suas virtudes melódicas e a capacidade de expressão poética baseada no dom da palavra cantada.

Obra
Suíte Litúrgica Negra (1939);
Trio nº 1 (1939);
Momento eufórico;
Prelúdio vivaz; Introdução e allegro (1945);
Duplo Quinteto (1946);
O Cravo Tropical (1944); Invenção nº 1 (1934);
Poema (1936);
Seis Estudos (1936);
Ponteio para São João (1938);
Cordão de Prata (1939);
A Infinita Vigília (1941);
Oração da Noite;
O Canto Absoluto (1947), cantata;
Estâncias, poema coral;
Epigrama;
Xangô.

Fonte: http://www.geocities.com/Vienna/Strasse/8454/itibere.htm

sábado, 8 de setembro de 2007

Inezita Barroso

Inezita Barroso

A cantora, instrumentista, arranjadora, folclorista e atriz Inezita Barroso (Inês Madalena Aranha de Lima), nasceu em São Paulo/SP em 04.03.1925. Inezita começou a cantar e estudar violão aos sete anos, e aos 11 iniciou seu aprendizado de piano. Depois de casada, voltou ao canto e ao violão, estreando, em 1950, na Rádio Bandeirantes, de São Paulo, a convite de Evaldo Rui.

Participou em seguida da transmissão inaugural da TV Tupi, canal 3, e trabalhou como cantora exclusiva da Rádio Nacional, de São Paulo, transferindo-se mais tarde para a Record. Ainda em 1950 participou do filme Ângela, dirigido por Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida e realizou recitais no Teatro Brasileiro de Comédia, no teatro de Cultura Artística e no Teatro Colombo.

Voltou a atuar em cinema em 1953, nos filmes Destino em apuros (direção de Ernesto Remani) e Mulher de verdade (direção de Alberto Cavalcanti). No ano seguinte, apareceu em É proibido beijar, de Ugo Lombardi, e O Craque, de José Carlos Burle, recebendo ainda o prêmio Roquete Pinto, como a melhor cantora de rádio da música popular brasileira, e o prêmio Guarani, como a melhor cantora do disco.

Ainda em 1953 gravou na Victor Canto do mar (Guerra Peixe), Marvada pinga (Laureano), Benedito pretinho e Dança do caboclo (ambas de Hekel Tavares), e os sambas Estatutos de gafieira (Billy Blanco) e Isso é papel, João? (Davi Raw e Cícero Galindo Machado).

A partir de 1954 passou a apresentar-se semanalmente em programas folclóricos na TV Record, de São Paulo. Em 1955 atuou no filme Carnaval em lá maior (direção de Ademar Gonzaga) e como atriz e cantora representou o Brasil no festival de Cinema de Punta del Este, Uruguai, viajando em seguida ao Paraguai. Foi novamente premiada com o Roquete Pinto e ainda com o Saci, como melhor atriz do cinema. Realizou gravações de divulgação do folclore brasileiro, ilustrando uma série de conferências de professores na universidade de São Paulo.

Seu primeiro LP, Inezita Barroso, foi lançado pela Copacabana, também em 1955, com repertório folclórico que incluía, entre outras, Banzo (Hekel Tavares e Murilo Araújo), Funeral dum rei nagô (Hekel Tavares e Murilo Araújo), Viola quebrada (Mário de Andrade) e Mineiro tá me chamano (Zé do Norte).

Em seguida lançou os LPs Canta Inezita, Coisas do meu Brasil e Lá vem o Brasil. Nessa época, Jean Louis Barrault, Marian Anderson, Vittorio Gassmann e Roberto Inglez, em visita ao Brasil, levaram seus discos para a Europa, onde foram divulgados nas principais emissoras. Seus dois LPs seguintes foram Vamos falar de Brasil e Inesita apresenta, ainda pela Copacabana, reunindo neste último composições de Babi de Oliveira, Juraci Silveira, Zica Bergami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade, do folclore baiano, mineiro e paulista.

Em 1956 publicou seu livro Roteiro de um violão. Em 1960, lançou o LP Eu me agarro na viola (Copacabana), faixa de abertura do disco, além de Leilão (Hekel Tavares e Joraci Camargo), A moda da mula preta (Raul Torres e João Pacífico), Bonde do Camarão (Cornélio Pires e Mariano Silva) e Canção da guitarra (Marcelo Tupinambá e Aplecina do Carmo).

Em 1961 lançou o Lp Inezita Barroso, com Casa de caboclo (Hekel Tavares e Luiz Peixoto), Viola quebrada, regravação do seu primeiro LP, Tambá-Tajá (Waldemar Henrique), Roda carreta (Paulo Ruschel) e Carreteiro (Barbosa Lessa).

Em 1968, lançou o LP O Melhor de Inezita, com Banzo e Funeral dum rei nagô, regravações do seu primeiro LP, O Hino dos fuzileiros navais, ou Cisne Branco (Antônio Manuel do Espírito Santo e Benedito X. de Macedo), Lampião de gás (Zica Bergami) e Moda da pinga (Laureano), os dois números mais populares.

Em 1969, lançou o LP Clássicos da música caipira, volume 1, cujas composições de destaque são: Chico Mineiro (Francisco Ribeiro e Tonico), Do lado que o vento vai (Raul Torres), Baldrana macia (Anacleto Rosas Júnior e Arlindo Pinto), Sertão do Laranjinha (adaptação de Tonico e Tinoco e Capitão Furtado) e Pingo d'água (Raul Torres e João Pacífico). Nesse mesmo ano ganhou troféu do I Festival de Folclore Sul-Americano, em Salinas, Uruguai.

Em 1970 lançou o LP Modinhas, onde se destacam as composições Canção da felicidade (Barroso Neto e Nosor Sanches) e Conselhos (Carlos Gomes). Ainda neste ano produziu um documentário que representou o Brasil na Expo-70, no Japão. Em 1972 lançou o volume dois dos Clássicos da música caipira, com Rio de lágrimas (Piraci, Lourival dos Santos e Tião Carreiro), Divino Espírito Santo (Canhotinho e Torrinha), Destinos iguais (Capitão Furtado e Laureano) e Rei do Café (Carreirinho e Teddy Vieira).

Em 1975, lançou o LP Inezita em todos os cantos, com Negrinho do pastoreio (Barbosa Lessa), Asa branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e números folclóricos recolhidos na Bahia, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Fez programas especiais para o Uruguai, Paraguai, EUA, Israel, antiga U.R.S.S., França e Itália.

Tem mais de 70 discos gravados, entre 78 rpm, LPs e CDs; recentemente gravou CDs com o violeiro Roberto Côrrea e a Orquestra de Violas de São José dos Campos. Desde os anos 70 comanda o programa `Viola, Minha Viola", exibido até hoje pela TV Cultura.

Inezita Barroso

Inezita Barroso

A cantora, instrumentista, arranjadora, folclorista e atriz Inezita Barroso (Inês Madalena Aranha de Lima), nasceu em São Paulo/SP em 04.03.1925. Inezita começou a cantar e estudar violão aos sete anos, e aos 11 iniciou seu aprendizado de piano. Depois de casada, voltou ao canto e ao violão, estreando, em 1950, na Rádio Bandeirantes, de São Paulo, a convite de Evaldo Rui.

Participou em seguida da transmissão inaugural da TV Tupi, canal 3, e trabalhou como cantora exclusiva da Rádio Nacional, de São Paulo, transferindo-se mais tarde para a Record. Ainda em 1950 participou do filme Ângela, dirigido por Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida e realizou recitais no Teatro Brasileiro de Comédia, no teatro de Cultura Artística e no Teatro Colombo.

Voltou a atuar em cinema em 1953, nos filmes Destino em apuros (direção de Ernesto Remani) e Mulher de verdade (direção de Alberto Cavalcanti). No ano seguinte, apareceu em É proibido beijar, de Ugo Lombardi, e O Craque, de José Carlos Burle, recebendo ainda o prêmio Roquete Pinto, como a melhor cantora de rádio da música popular brasileira, e o prêmio Guarani, como a melhor cantora do disco.

Ainda em 1953 gravou na Victor Canto do mar (Guerra Peixe), Marvada pinga (Laureano), Benedito pretinho e Dança do caboclo (ambas de Hekel Tavares), e os sambas Estatutos de gafieira (Billy Blanco) e Isso é papel, João? (Davi Raw e Cícero Galindo Machado).

A partir de 1954 passou a apresentar-se semanalmente em programas folclóricos na TV Record, de São Paulo. Em 1955 atuou no filme Carnaval em lá maior (direção de Ademar Gonzaga) e como atriz e cantora representou o Brasil no festival de Cinema de Punta del Este, Uruguai, viajando em seguida ao Paraguai. Foi novamente premiada com o Roquete Pinto e ainda com o Saci, como melhor atriz do cinema. Realizou gravações de divulgação do folclore brasileiro, ilustrando uma série de conferências de professores na universidade de São Paulo.

Seu primeiro LP, Inezita Barroso, foi lançado pela Copacabana, também em 1955, com repertório folclórico que incluía, entre outras, Banzo (Hekel Tavares e Murilo Araújo), Funeral dum rei nagô (Hekel Tavares e Murilo Araújo), Viola quebrada (Mário de Andrade) e Mineiro tá me chamano (Zé do Norte).

Em seguida lançou os LPs Canta Inezita, Coisas do meu Brasil e Lá vem o Brasil. Nessa época, Jean Louis Barrault, Marian Anderson, Vittorio Gassmann e Roberto Inglez, em visita ao Brasil, levaram seus discos para a Europa, onde foram divulgados nas principais emissoras. Seus dois LPs seguintes foram Vamos falar de Brasil e Inesita apresenta, ainda pela Copacabana, reunindo neste último composições de Babi de Oliveira, Juraci Silveira, Zica Bergami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade, do folclore baiano, mineiro e paulista.

Em 1956 publicou seu livro Roteiro de um violão. Em 1960, lançou o LP Eu me agarro na viola (Copacabana), faixa de abertura do disco, além de Leilão (Hekel Tavares e Joraci Camargo), A moda da mula preta (Raul Torres e João Pacífico), Bonde do Camarão (Cornélio Pires e Mariano Silva) e Canção da guitarra (Marcelo Tupinambá e Aplecina do Carmo).

Em 1961 lançou o Lp Inezita Barroso, com Casa de caboclo (Hekel Tavares e Luiz Peixoto), Viola quebrada, regravação do seu primeiro LP, Tambá-Tajá (Waldemar Henrique), Roda carreta (Paulo Ruschel) e Carreteiro (Barbosa Lessa).

Em 1968, lançou o LP O Melhor de Inezita, com Banzo e Funeral dum rei nagô, regravações do seu primeiro LP, O Hino dos fuzileiros navais, ou Cisne Branco (Antônio Manuel do Espírito Santo e Benedito X. de Macedo), Lampião de gás (Zica Bergami) e Moda da pinga (Laureano), os dois números mais populares.

Em 1969, lançou o LP Clássicos da música caipira, volume 1, cujas composições de destaque são: Chico Mineiro (Francisco Ribeiro e Tonico), Do lado que o vento vai (Raul Torres), Baldrana macia (Anacleto Rosas Júnior e Arlindo Pinto), Sertão do Laranjinha (adaptação de Tonico e Tinoco e Capitão Furtado) e Pingo d'água (Raul Torres e João Pacífico). Nesse mesmo ano ganhou troféu do I Festival de Folclore Sul-Americano, em Salinas, Uruguai.

Em 1970 lançou o LP Modinhas, onde se destacam as composições Canção da felicidade (Barroso Neto e Nosor Sanches) e Conselhos (Carlos Gomes). Ainda neste ano produziu um documentário que representou o Brasil na Expo-70, no Japão. Em 1972 lançou o volume dois dos Clássicos da música caipira, com Rio de lágrimas (Piraci, Lourival dos Santos e Tião Carreiro), Divino Espírito Santo (Canhotinho e Torrinha), Destinos iguais (Capitão Furtado e Laureano) e Rei do Café (Carreirinho e Teddy Vieira).

Em 1975, lançou o LP Inezita em todos os cantos, com Negrinho do pastoreio (Barbosa Lessa), Asa branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e números folclóricos recolhidos na Bahia, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Fez programas especiais para o Uruguai, Paraguai, EUA, Israel, antiga U.R.S.S., França e Itália.

Tem mais de 70 discos gravados, entre 78 rpm, LPs e CDs; recentemente gravou CDs com o violeiro Roberto Côrrea e a Orquestra de Violas de São José dos Campos. Desde os anos 70 comanda o programa `Viola, Minha Viola", exibido até hoje pela TV Cultura.

domingo, 8 de julho de 2007

Mário de Andrade

Mário de Andrade (Mário Raul de Morais Andrade). Poeta, escritor, musicólogo, folclorista, crítico, jornalista. São Paulo SP 9/10/1893—id. 25/2/1945. Filho de Carlos Augusto de Andrade e de Maria Luísa de Morais Andrade fez estudos secundários no Ginásio do Carmo, dos irmãos maristas, em São Paulo.

Em 1911, matriculou-se no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo nos cursos de música, piano e canto, diplomando-se em 1917. Publicou os primeiros ensaios de crítica de arte em jornais e revistas, e seu primeiro livro, Há uma gota de sangue em cada poema (São Paulo, 1917). Foi o início de uma atividade intelectual das mais vigorosas da história literária e artística do país.

Em 1922 tornou-se professor de história da música e de estética musical do conservatório onde se diplomara e publicou Paulicéia desvairada, obra pioneira da poesia modernista do Brasil. A crítica conservadora cobriu o livro e seu autor de insultos e ápodos, ressalvando-se, entretanto, os pronunciamentos de Amadeu Amaral e João Ribeiro, que demonstraram compreensão para o “movimento modernista” que se iniciava e que culminou com a realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal, de São Paulo, em fevereiro de 1922, e da qual terá sido, possivelmente, a figura principal.

Em 1924 assumiu no conservatório a cátedra de história da música e de piano. Somente depois de ter publicado algumas Obras de literatura — poesia, prosa e crítica — voltou-se para a música, com uma série de Obras em que fixou as bases teóricas para a formação de uma consciência musical brasileira. Com o Ensaio sobre a música brasileira (São Paulo, 1928) esboçou os rumos para a sistematização dos estudos musicológicos no Brasil.

No ano seguinte publicou o Compêndio de história da música (São Paulo, 1929), depois reescrito e reintitulado Pequena história da música (São Paulo, 1942), e a seguir Modinhas imperiais (São Paulo, 1930), antologia de peças do século XIX, precedida de um prólogo e de notas bibliográficas em que aborda em profundidade a história da modinha brasileira de salão. Em Música, doce música (São Paulo, 1933) reuniu escritos, conferências e crítica.

Em 1935 foi nomeado pelo prefeito Fábio Prado para a direção do então criado Departamento de Cultura, da prefeitura de São Paulo. Teve nesse encargo a colaboração de Paulo Duarte, que o indicara ao prefeito. Criou os parques infantis, a Discoteca Pública Municipal, e, para incentivar o cultivo da música, empregou recursos oficiais na criação da Orquestra Sinfônica de São Paulo, do Quarteto Haydn (depois Quarteto Municipal), do Coral Paulistano e de um Coral Popular.

Desligou-se do Departamento de Cultura em 1936 e assumiu, no Rio de Janeiro, o Instituto de Artes, da Universidade do Distrito Federal, onde também passou a reger a cátedra de filosofia e história da arte. Desse ano é o ensaio A música e a canção populares no Brasil, editado pelo Serviço de Cooperação Intelectual do Ministério das Relações Exteriores, e depois incluído no volume VI das Obras completas.

Ainda em 1936 efetuou o tombamento dos monumentos históricos paulistas para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ajudara a projetar. Em 1937 fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo e foi um dos organizadores do I Congresso da Língua Nacional Cantada, cujos trabalhos constam dos Anais publicados em 1938 pelo Departamento de Cultura da prefeitura de São Paulo.

Em 1939, com a extinção da Universidade do Distrito Federal, passou a trabalhar no Serviço (hoje Instituto) do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Elaborou, na época, o projeto de uma Enciclopédia Brasileira, nunca materializado.

Em 1940 o Instituto Brasil - Estados Unidos publicou sua conferência A expressão musical dos Estados Unidos, incluída no volume VII das Obras completas. Retornou a São Paulo em 1941, onde passou a ser assessor técnico da seção paulista do IPHAN e reassumiu a cátedra de história da música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Nesse ano a Editora Guaíra, de Curitiba PR, lançou seu livro Música do Brasil, contendo estudos sobre história e folclore, incluídos nos volumes XI e XVIII das Obras completas.

Foi uma das inteligências mais construtivas do Brasil e sua obra atesta uma atividade intelectual e artística que se desdobram em setores dos mais variados aspectos, como a questão da língua nacional e os problemas fonéticos do canto erudito e da declamação lírica em vernáculo. Suas contribuições para o desenvolvimento da música no Brasil seriam depois enaltecidas por Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, entre muitíssimos outros.

Influenciou por todo o país o trabalho de pesquisa do folclore musical, em particular o de Frutuoso Viana e o de Luciano Gallet (reuniu as pesquisas deste último em Estudos de folclore, Rio de Janeiro, 1934, para o qual escreveu um ensaio histórico e critico).

Em fevereiro de 1970 a Biblioteca Municipal Mário de Andrade dedicou-lhe número especial de seu Boletim bibliográfico, contendo, além de estudos, uma “Cronologia geral da obra de Mário de Andrade”. Inúmeros trabalhos e escritos seus publicados em revistas e jornais foram incorporados às suas Obras completas, cuja publicação, iniciada em 1944 pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, compreende 20 volumes, dos quais os volumes XIII (Música de feitiçaria no Brasil, 1963) e XVIII (Danças dramáticas do Brasil, 3 tomos, 1959) foram organizados por Oneyda Alvarenga (sistematização geral, introdução e notas).

Dos demais volumes relacionados com música e folclore brasileiros citem-se: VI — Ensaio sobre a música brasileira (Ensaio sobre a música brasileira; A música e a canção populares no Brasil), 1962; VII — Música, doce música (Música doce música; A expressão musical nos Estados Unidos), organizado por Oneyda Alvarenga, 1963; VII — Pequena história da música, 1942; IX — Namoros com a medicina (Terapêutica musical; Medicina dos excretos), s.d.; XI — Aspectos da música brasileira (Evolução social da música no Brasil; Os compositores e a língua nacional; A pronúncia cantada e o problema nasal brasileiro através dos discos; O samba rural paulista; Cultura musical), 1965; XVI — Padre Jesuíno do Monte Carmelo, 1963; Modinhas imperiais, 1964.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

Mário de Andrade

Mário de Andrade (Mário Raul de Morais Andrade). Poeta, escritor, musicólogo, folclorista, crítico, jornalista. São Paulo SP 9/10/1893—id. 25/2/1945. Filho de Carlos Augusto de Andrade e de Maria Luísa de Morais Andrade fez estudos secundários no Ginásio do Carmo, dos irmãos maristas, em São Paulo.

Em 1911, matriculou-se no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo nos cursos de música, piano e canto, diplomando-se em 1917. Publicou os primeiros ensaios de crítica de arte em jornais e revistas, e seu primeiro livro, Há uma gota de sangue em cada poema (São Paulo, 1917). Foi o início de uma atividade intelectual das mais vigorosas da história literária e artística do país.

Em 1922 tornou-se professor de história da música e de estética musical do conservatório onde se diplomara e publicou Paulicéia desvairada, obra pioneira da poesia modernista do Brasil. A crítica conservadora cobriu o livro e seu autor de insultos e ápodos, ressalvando-se, entretanto, os pronunciamentos de Amadeu Amaral e João Ribeiro, que demonstraram compreensão para o “movimento modernista” que se iniciava e que culminou com a realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal, de São Paulo, em fevereiro de 1922, e da qual terá sido, possivelmente, a figura principal.

Em 1924 assumiu no conservatório a cátedra de história da música e de piano. Somente depois de ter publicado algumas Obras de literatura — poesia, prosa e crítica — voltou-se para a música, com uma série de Obras em que fixou as bases teóricas para a formação de uma consciência musical brasileira. Com o Ensaio sobre a música brasileira (São Paulo, 1928) esboçou os rumos para a sistematização dos estudos musicológicos no Brasil.

No ano seguinte publicou o Compêndio de história da música (São Paulo, 1929), depois reescrito e reintitulado Pequena história da música (São Paulo, 1942), e a seguir Modinhas imperiais (São Paulo, 1930), antologia de peças do século XIX, precedida de um prólogo e de notas bibliográficas em que aborda em profundidade a história da modinha brasileira de salão. Em Música, doce música (São Paulo, 1933) reuniu escritos, conferências e crítica.

Em 1935 foi nomeado pelo prefeito Fábio Prado para a direção do então criado Departamento de Cultura, da prefeitura de São Paulo. Teve nesse encargo a colaboração de Paulo Duarte, que o indicara ao prefeito. Criou os parques infantis, a Discoteca Pública Municipal, e, para incentivar o cultivo da música, empregou recursos oficiais na criação da Orquestra Sinfônica de São Paulo, do Quarteto Haydn (depois Quarteto Municipal), do Coral Paulistano e de um Coral Popular.

Desligou-se do Departamento de Cultura em 1936 e assumiu, no Rio de Janeiro, o Instituto de Artes, da Universidade do Distrito Federal, onde também passou a reger a cátedra de filosofia e história da arte. Desse ano é o ensaio A música e a canção populares no Brasil, editado pelo Serviço de Cooperação Intelectual do Ministério das Relações Exteriores, e depois incluído no volume VI das Obras completas.

Ainda em 1936 efetuou o tombamento dos monumentos históricos paulistas para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ajudara a projetar. Em 1937 fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo e foi um dos organizadores do I Congresso da Língua Nacional Cantada, cujos trabalhos constam dos Anais publicados em 1938 pelo Departamento de Cultura da prefeitura de São Paulo.

Em 1939, com a extinção da Universidade do Distrito Federal, passou a trabalhar no Serviço (hoje Instituto) do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Elaborou, na época, o projeto de uma Enciclopédia Brasileira, nunca materializado.

Em 1940 o Instituto Brasil - Estados Unidos publicou sua conferência A expressão musical dos Estados Unidos, incluída no volume VII das Obras completas. Retornou a São Paulo em 1941, onde passou a ser assessor técnico da seção paulista do IPHAN e reassumiu a cátedra de história da música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Nesse ano a Editora Guaíra, de Curitiba PR, lançou seu livro Música do Brasil, contendo estudos sobre história e folclore, incluídos nos volumes XI e XVIII das Obras completas.

Foi uma das inteligências mais construtivas do Brasil e sua obra atesta uma atividade intelectual e artística que se desdobram em setores dos mais variados aspectos, como a questão da língua nacional e os problemas fonéticos do canto erudito e da declamação lírica em vernáculo. Suas contribuições para o desenvolvimento da música no Brasil seriam depois enaltecidas por Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, entre muitíssimos outros.

Influenciou por todo o país o trabalho de pesquisa do folclore musical, em particular o de Frutuoso Viana e o de Luciano Gallet (reuniu as pesquisas deste último em Estudos de folclore, Rio de Janeiro, 1934, para o qual escreveu um ensaio histórico e critico).

Em fevereiro de 1970 a Biblioteca Municipal Mário de Andrade dedicou-lhe número especial de seu Boletim bibliográfico, contendo, além de estudos, uma “Cronologia geral da obra de Mário de Andrade”. Inúmeros trabalhos e escritos seus publicados em revistas e jornais foram incorporados às suas Obras completas, cuja publicação, iniciada em 1944 pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, compreende 20 volumes, dos quais os volumes XIII (Música de feitiçaria no Brasil, 1963) e XVIII (Danças dramáticas do Brasil, 3 tomos, 1959) foram organizados por Oneyda Alvarenga (sistematização geral, introdução e notas).

Dos demais volumes relacionados com música e folclore brasileiros citem-se: VI — Ensaio sobre a música brasileira (Ensaio sobre a música brasileira; A música e a canção populares no Brasil), 1962; VII — Música, doce música (Música doce música; A expressão musical nos Estados Unidos), organizado por Oneyda Alvarenga, 1963; VII — Pequena história da música, 1942; IX — Namoros com a medicina (Terapêutica musical; Medicina dos excretos), s.d.; XI — Aspectos da música brasileira (Evolução social da música no Brasil; Os compositores e a língua nacional; A pronúncia cantada e o problema nasal brasileiro através dos discos; O samba rural paulista; Cultura musical), 1965; XVI — Padre Jesuíno do Monte Carmelo, 1963; Modinhas imperiais, 1964.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Waldemar Henrique

O compositor e pianista Waldemar Henrique (Waldemar Henrique da Costa Pereira) nasceu em Belém do Pará (15/2/1905) e faleceu na mesma cidade em 28/3/1995. Depois de passar a infância na cidade do Porto, Portugal, regressou ao Brasil e iniciou-se na música.

Começou a estudar solfejo e piano com Nicote de Andrade, em 1918, em Belém. Em seguida, fez cursos de violino, harmonia, composição e canto. Seu primeiro sucesso, Minha terra, é de 1923. Em 1929 ingressou no Conservatório Carlos Gomes, onde foi aluno de Filomena Brandão Baars e do maestro Ettore Bosio e de Beatriz Simões.

Em fins de 1933 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou piano, composição, orquestração e regência com Barroso Neto, Newton Pádua, Athur Bosmans, Lorenzo Fernandez e Outros. Dedicou-se especialmente à composição, sobretudo de canções, de inspiração folclórica principalmente amazônica, mas também indígena, nordestina e afro-brasileira.

Trabalhou em rádios, teatros e cassinos do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, além de haver realizado excursões por todo o Brasil, Argentina, Uruguai, França, Espanha e Portugal. Nessas viagens, apresentava-se com sua irmã, a cantora Mara Costa Pereira (Mara Henrique Ferraz, 1916—1975).

Durante alguns anos, no Rio de Janeiro, dedicou-se ao magistério e produziu programas para diversas emissoras, como a Rádio Roquette Pinto, de que foi diretor da seção de música orquestral. Por comissionamento do Itamaraty, realizou excursões artísticas pela França, Espanha e Portugal, em 1949 e 1955, e pelo Paraguai, Uruguai e Argentina, em 1953 e 1954.

Em 1956 gravou seu primeiro LP, com interpretaçao vocal de Jorge Fernandes. Em 1958, sua música-tema para Morte e vida Severina, poema dramático de João Cabral de Meio Neto (1920—), obteve o prêmio Jornal do Comércio, como o melhor do ano. Dirigiu por mais de dez anos o Teatro da Paz, de Belém.

Até 1967 trabalhou no Departamento de Cultura e no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro. Em 1978 a Funarte publicou Waldemar Henrique: o canto da Amazônia, de José Claver Filho, volume 2 da Coleção MPB. Foi eleito em 1981 para a Academia Brasileira de Música.

Ao completar 80 anos, em 1985, foi homenageado em desfile de escola de samba, em Belém, cidade onde há um teatro que leva seu nome. Escreveu mais de 120 canções ao longo de sua carreira.

Obras

Abá-Logum, 1948; Abaluaiê, 1947; Adeus, 1961; Boi-bumbá, 1934; Cabocla malvada, 1932; Canção dos remadores, 1938; Cobra grande, 1934; Coco peneruê, 1934; Curupira, 1934; Essa negra fulô, 1935; Eu me agarro na viola, 1936; Matintaperera, 1933; Meu boi vai-se embora, 1936; Meu último luar, 1934, Minha terra, 1923; Morena, 1935; No jardim de Oeira, 1948; Rolinha, 1935; Sem seu, 1952; Senhora dona Sancha, 1932; Sonho de curumim, 1937; Tamba-Tajá, 1934, Trem de Alagoas, 1939; Uirapuru, 1934; A vela que passou, 1936.

CD

O canto da Amazônia, Projeto Uirapuru vol. 2, 1997, Secult Pará PA0010.

Algumas letras do compositor:

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Stefana de Macedo

Stefana de Macedo (Stefana de Moura Macedo) - 29/1/1903, Recife, PE - 1/9/1975, Rio de Janeiro, RJ - foi uma das principais cantoras-pesquisadoras brasileiras, a quem nossa memória folclórica muito deve.

Incluiu 43 músicas de características regionais nos seus 22 discos gravados. São cocos, toadas pernambucanas, cateretês, maracatus, corta-jacas, baiões, canções do Amazonas, tanto de domínio público (muitas vezes com adaptações suas) quanto de autores conhecidos, numa época em que só os homens atuavam nesse setor, abrindo caminho para artistas que vieram depois, como Dilu Melo, Inezita Barroso e Ely Camargo.

Quando tinha nove anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio R. William e teve aulas de violão com Patrício Teixeira e Rogério Guimarães, logo começando a cantar e tocar em festas familiares.

Em 1926 apresentou-se ao violão no Cassino do Copacabana Palace, quando esse instrumento ainda estava restrito à então chamada malandragem. No ano seguinte, apresentou-se no I.N.M., no Rio de Janeiro, e no Teatro Municipal, de São Paulo.

Em 1928 estreou em disco interpretando pela Odeon as canções Tenho uma raiva de vancê e Sussuarana, ambas de Luiz Peixoto e Hekel Tavares. Sussuarana obteve grande sucesso, embora tivesse sido gravada pouco antes por Gastão Formenti. No mesmo ano, gravou de Catulo da Paixão Cearense o samba Leonor e de Hekel Tavares e Joraci Camargo, a canção Lua cheia.

Em 1929 apresentou-se no Teatro Municipal, de São Paulo e gravou pela Columbia o samba-choro Bambalelê, a canção Stela, os corta-jaca A mulher e o trem e O homem e o relógio, o cateretê Bicho caxinguelê, a toada Saia do sereno, o batuque Dança do Quilombo dos Palmares, talvez a música brasileira mais antiga conhecida, com a primeira gravação de um batuque com batida na caixa do violão, executada por ela, e a canção História triste de uma praieira seu maior sucesso, todos de motivo popular, com arranjos de sua autoria. No mesmo ano, gravou de João Pernambuco os cocos Tiá de Junqueira e Biro biro iaiá e as toadas Siricóia e Vancê, esta última em parceria com E. Tourinho.

Em 1930 gravou pela Colúmbia o batuque Mãe Maria Camundá de sua autoria e o baião Estrela D'Alva de João Pernambuco. No mesmo ano gravou a toada Como se dobra o sino, de motivo popular com arranjos de sua autoria. Também fez arranjos de outros motivos populares, entre os quais o coco O-le-lê Tamandaré e a canção Rede do Ceará. Gravou diversas composições de João Pernambuco, entre as quais Manacá dos gerais, de parceria de João e E. Tourinho. Gravou diversas composições de Amélia Brandão Nery, entre as quais a cantiga Casa de farinha e a canção Nos cafundó do coração. Ainda em 1930 gravou do compositor pernambucano Raul Moraes o coco Lenhadô.

Em 1931 cantou no filme Coisas nossas, de Alberto Byington. Em 1933 gravou de sua autoria, o maracatu Dois de oro e a canção Sodade véia. Em 1935 deu dois recitais no Teatro Colón, de Buenos Aires, Argentina; no primeiro, com a presença do mundo oficial da Argentina e do Brasil, executou na primeira parte suas canções ao violão e, na segunda, com Heitor Villa-Lobos ao piano, músicas do compositor.

Em 1939 regravou a canção História triste de uma praieira, com arranjos de sua autoria e versos de Adelmar Tavares. Em 1942 gravou a canção Rede do Ceará, de motivo popular e arranjos de sua autoria.

Em fins dos anos 1950, a cantora Ely Camargo gravou de sua autoria e Aldemar Tavares, História triste de uma Praieira. A partir dos anos 1950 só se apresentava em raros recitais, consolidando, contudo, uma aura de elegância e sofisticação, sempre saudada por intelectuais, críticos e até músicos eruditos.

Em 1968 gravou histórico depoimento para a posteridade no Museu da Imagem e do Som. Passou seus últimos anos de vida na cidade de Volta Redonda, sempre esquecida pela chamada grande "mídia".

Fonte: Cantoras do Brasil - Stefana de Macedo

Stefana de Macedo

Stefana de Macedo (Stefana de Moura Macedo) - 29/1/1903, Recife, PE - 1/9/1975, Rio de Janeiro, RJ - foi uma das principais cantoras-pesquisadoras brasileiras, a quem nossa memória folclórica muito deve.

Incluiu 43 músicas de características regionais nos seus 22 discos gravados. São cocos, toadas pernambucanas, cateretês, maracatus, corta-jacas, baiões, canções do Amazonas, tanto de domínio público (muitas vezes com adaptações suas) quanto de autores conhecidos, numa época em que só os homens atuavam nesse setor, abrindo caminho para artistas que vieram depois, como Dilu Melo, Inezita Barroso e Ely Camargo.

Quando tinha nove anos de idade, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio R. William e teve aulas de violão com Patrício Teixeira e Rogério Guimarães, logo começando a cantar e tocar em festas familiares.

Em 1926 apresentou-se ao violão no Cassino do Copacabana Palace, quando esse instrumento ainda estava restrito à então chamada malandragem. No ano seguinte, apresentou-se no I.N.M., no Rio de Janeiro, e no Teatro Municipal, de São Paulo.

Em 1928 estreou em disco interpretando pela Odeon as canções Tenho uma raiva de vancê e Sussuarana, ambas de Luiz Peixoto e Hekel Tavares. Sussuarana obteve grande sucesso, embora tivesse sido gravada pouco antes por Gastão Formenti. No mesmo ano, gravou de Catulo da Paixão Cearense o samba Leonor e de Hekel Tavares e Joraci Camargo, a canção Lua cheia.

Em 1929 apresentou-se no Teatro Municipal, de São Paulo e gravou pela Columbia o samba-choro Bambalelê, a canção Stela, os corta-jaca A mulher e o trem e O homem e o relógio, o cateretê Bicho caxinguelê, a toada Saia do sereno, o batuque Dança do Quilombo dos Palmares, talvez a música brasileira mais antiga conhecida, com a primeira gravação de um batuque com batida na caixa do violão, executada por ela, e a canção História triste de uma praieira seu maior sucesso, todos de motivo popular, com arranjos de sua autoria. No mesmo ano, gravou de João Pernambuco os cocos Tiá de Junqueira e Biro biro iaiá e as toadas Siricóia e Vancê, esta última em parceria com E. Tourinho.

Em 1930 gravou pela Colúmbia o batuque Mãe Maria Camundá de sua autoria e o baião Estrela D'Alva de João Pernambuco. No mesmo ano gravou a toada Como se dobra o sino, de motivo popular com arranjos de sua autoria. Também fez arranjos de outros motivos populares, entre os quais o coco O-le-lê Tamandaré e a canção Rede do Ceará. Gravou diversas composições de João Pernambuco, entre as quais Manacá dos gerais, de parceria de João e E. Tourinho. Gravou diversas composições de Amélia Brandão Nery, entre as quais a cantiga Casa de farinha e a canção Nos cafundó do coração. Ainda em 1930 gravou do compositor pernambucano Raul Moraes o coco Lenhadô.

Em 1931 cantou no filme Coisas nossas, de Alberto Byington. Em 1933 gravou de sua autoria, o maracatu Dois de oro e a canção Sodade véia. Em 1935 deu dois recitais no Teatro Colón, de Buenos Aires, Argentina; no primeiro, com a presença do mundo oficial da Argentina e do Brasil, executou na primeira parte suas canções ao violão e, na segunda, com Heitor Villa-Lobos ao piano, músicas do compositor.

Em 1939 regravou a canção História triste de uma praieira, com arranjos de sua autoria e versos de Adelmar Tavares. Em 1942 gravou a canção Rede do Ceará, de motivo popular e arranjos de sua autoria.

Em fins dos anos 1950, a cantora Ely Camargo gravou de sua autoria e Aldemar Tavares, História triste de uma Praieira. A partir dos anos 1950 só se apresentava em raros recitais, consolidando, contudo, uma aura de elegância e sofisticação, sempre saudada por intelectuais, críticos e até músicos eruditos.

Em 1968 gravou histórico depoimento para a posteridade no Museu da Imagem e do Som. Passou seus últimos anos de vida na cidade de Volta Redonda, sempre esquecida pela chamada grande "mídia".

Fonte: Cantoras do Brasil - Stefana de Macedo

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Cornélio Pires

Cornélio Pires nasceu no dia 13 de julho de 1884, na cidade paulista de Tietê, e morreu de câncer na laringe no dia 17 de novembro de 1958, na capital de São Paulo. Muito cedo, com 14, 15 anos, Cornélio deixou a tranqüilidade do lar e partiu para ganhar a vida, primeiro como biscateiro e aprendiz de tipógrafo, depois como jornalista, poeta, contista e folclorista.

Publicou 23 livros, o primeiro em 1910. Fora isso, criou uma companhia de teatro e realizou quatro filmes sobre o dia-a-dia da gente caipira, que tão bem entendia. Em 1929, através do selo Columbia, representado no Brasil de então por Byington & Company – depois Continental e agora Warner Continental – conseguiu realizar o seu grande sonho, que era gravar em disco as diversas manifestações culturais e artísticas do povo.

Cornélio Pires foi o primeiro artista a gravar de forma independente no país, já que teve de bancar, ele próprio, a sua famosa série de discos.

(Assis Angelo, texto no encarte do CD Cornélio Pires - Som da Terra)

Nascido de um escorregão em hora imprópria da mãe dona Nicota e batizado por engano do padre surdo com o nome de Cornélio, ao invés de Rogério, esse paulista de Tietê tem em sua própria história muito da vida rústica da "civilização cabocla". Civilização que, ao retratar em inúmeras outras comunidades pelo Brasil a fora, tornou-o conhecido e reverenciado nas décadas de 1920 e 1930.

Mistura de poeta, escritor, contador de casos, conferencista e humorista, Cornélio Pires foi uma espécie de showman da cultura caipira. Para o pesquisador e escritor Macedo Dantas, que lhe dedica uma obra a vasculhar minuciosa e bibliograficamente a existência, "ele é o pai do folclore paulista, notável observador da linguagem, dos costumes, da paisagem humana e física do mato".

Tendo convivido na infância com os escritos e as apresentações de Cornélio, no sul de Minas Gerais, onde morou, o historiador Antônio Cândido, ao prefaciar o livro de Dantas, sintetiza: "Meio escritor, meio ator, meio animador; generoso, combativo, empreendedor, simpático – a sua maior obra foi a ação nos palcos nas palestras na literatura falada que perde bastante quando é lida. Como os oradores, como certo tipo de poetas, como os repentistas e os velhos glosadores de mote, a dele foi uma literatura de ação e comunhão direta, eletrizante, com o público".

Os caipiras deste mato
Não anda de quatro pé
Não são, Montêro Lobato
Como tu, feição de gato,
Qis pintá nos Urupé.

A característica mais importante a se recuperar no universo caipira, como enfatiza o professor e editorialista do jornal O Estado de São Paulo, Hélio Damante, é a forma de fala que tem o poder de captar o espírito do caboclo. Transformar em representação gráfica esses fonemas, possibilitando fidelidade aquela realidade, era algo que não havia sido explorado até Cornélio Pires".

Essa dificuldade técnica era ainda agravada no caso de Cornélio por seus primeiros escritos terem surgido quando a moda literária era a erudição gramatical.

Desprovido de preparação intelectual, pois nunca se dedicara aos estudos embora dispusesse de condições financeiras para tal. Cornélio vivia, na capital, no meio jornalístico e buscava aceitação de sua roda social, dividindo entre cultivar as suas raízes caipiras ou bancar o intelectual que jamais seria.

Essa contradição se refletirá em toda a sua obra, repleta de altos e baixos no que diz respeito à aceitação crítica já que como conta Dantas: "Há um Cornélio dialetal, folclórico, costumista, desenhista notável de coisas sertanejas psicológico sutil da alma cabocla, cheio de ternura, pitoresco e simpático para com a gente do mato. Há o Cornélio metido a literato de tom acadêmico ignorante da literatura universal e de língua culta, da música dos movimentos nacionais e mundiais, das leis e da ficção e da estilística. O primeiro merece respeito, o segundo já estaria fora da literatura se não fosse o outro".

O momento certo para impulsionar Cornélio a publicar seus primeiros escritos se dará em 1910, quando se revaloriza a vida sertaneja principalmente em decorrência do sucesso de Euclides da Cunha com o livro Os Sertões. Nessa época ele lança sua primeira coletânea de poesias, a mais conhecida até hoje Musa Caipira, que consagra o soneto Ideal caboclo:

Ai, seu moço, eu só quiria
P’ra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.
Porva espingarda e cutia
Um facão fala verdade,
E u’a viola de harmonia
P’ra chorá minha sodade.
Um rancho na bêra d’água
Vara de anzó, pôca mángua,
Pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo,
P’ra compretá meu desejo,
Cavalo bão – e muié...

O sucesso conquistado serviu de estímulo, fazendo com que passasse a dedicar maior empenho à divulgação desse universo que conhecia tão bem, já que vivera boa parte de sua juventude entre os matutos. Mas isso não fez com que ele abandonasse de vez suas pretensões literárias, tanto que anos mais tarde em 1921, persiste nesse caminho e, ao lançar uma coletânea de versos, é devidamente bombardeado pelo escritor e crítico Tristão de Athayde:

"Procure despojar-se o senhor Cornélio de toda essa escória de falsa literatice, cultive cada vez mais esse delicioso impressionismo regionalista em que já é mestre, acentue o sentimento interior de sua poesia um pouco descritiva demais e será como Catulo (Catulo da Paixão Cearense) ainda que sem sua prodigiosa riqueza de inspiração e emoção, um poeta à parte, o nosso poeta caipira."

A falta de método, entretanto, será uma tônica inseparável de Cornélio em todas as sua ações, a começar por seu curriculum que se estende do poeta e contista a conferencista e humorista; de jornalista e editor, a professor de educação física e empresário; de cineasta a realizador de gravações em disco de músicas sertanejas.

Quanto a esse seu perfil, Macedo Dantas pondera que "é preferível ele ter sido como foi, com todos os defeitos apontados, com sua indiferença pelo estudo, mas com essa criatividade notável, com esse poder de observação raro. Preferível ter sido um ignorante criativo, a um medalhão impotente."

Graças a esses traços de sua personalidade, Cornélio se transformou num contador de "causos" que lotava as salas de espetáculos por onde se apresentava.

Sempre entrando em cena de fraque ou casaca, ele divulgou intensamente a figura do caipira, incentivando a fixação da imagem do matuto irônico e debochado, contrastando com a figura frágil do caboclo ingênuo.

Uma de suas anedotas, registrada em livro, conta que "um granfino, a passeio pelo interior, alugou um cavalo e saiu percorrendo os arredores da cidade, indo parar na casa do caipira. Bem acolhido, entrou e começou a examinar a sala. Ao notar que na parede havia numerosas fotografias, perguntou ao dono da casa:

-De quem é esse retrato?
-É retrato de mea mãe...
-E aquele outro?
-Aquele é de meu pai...

Finalmente, vendo a fotografia de um burro bem escanelado com sete palmos de altura, arreio prateado, rédea bambeada, peitoral enfeitado, perguntou:

- Esse também é da família?

- Nhor, não. Mercê tá enganado. Esse num é retrato.

- Quem é então?

- É espêio...

Com toda essa flexibilidade e dinâmica Cornélio merece no mínimo ser lembrado como um grande ativista cultural de seu tempo. E é em defesa dessa memória que alguns estudiosos e folcloristas que se definem cornelianos, estão procurando através de delicados trabalhos de recuperação bibliográfica preservar a sua imagem.

No caso da sua discografia , apesar de se especular em torno de 108 discos gravados, até hoje só se consegui recuperar 48 gravações. Num país onde inexiste o hábito de se arquivarem informações para o futuro, muitos dos discos gravados por ele deve ter virado brinquedo na mão de crianças.

Em relação aos filmes realizados, há notícias de quatro, (Brasil pitoresco, Vamos passear, Sertão em festa), teve grande êxito, como registram informações veiculadas na época, porém localizar qualquer um deles é tarefa para super-herói, pois ninguém dispõe de cópias.

A obra escrita, por sua vez, além de ser uma das responsáveis pelo desaparecimento do autor do conhecimento público é literalmente um caso jurídico. Boêmio incorrigível, Cornélio sofreu a vida toda de grandes e graves problemas financeiros.

Numa de suas eternas crises de falta de fundos vendeu os direitos autorais de seus livros.

"No tempo de dante, aqui prás berada do riu era tudo mataria virge. Anta aqui era cardume. Era ciso (...) Pegô o burro véio em vez da besta? Nhor não. Muito pó. Peguei u’a anta... tava amuntada numa anta mantiúda..."

Macedo Dantas relata que "nenhum dos proprietários das obras de Cornélio se interessou em editá-las ou ceder os respectivos direitos". E, mais adiante Dantas considera ainda que "não é fácil, por vários motivos, lançar com êxito, qualquer obra de Cornélio, hoje esquecido do grande público e das novas gerações". Com essa perspectiva a reedição de Cornélio é tarefa para orgãos públicos pois sem verba oficial dificilmente seus trabalhos voltarão às prateleiras das livrarias. Atualmente qualquer exposição sobre Cornélio é realizada graças à concessão de colecionadores já que o que restou de Cornélio são os estudos sobre seus trabalhos feitos por folcloristas e amigos.

Dentre os que mereciam ser reeditados na opinião dos conhecedores da obra do poeta caipira estão as famosas Aventuras de Joaquim Bentinho (O queima-campo). Quando foi lançado em 1924, Joaquim Bentinho tornou-se personagem famoso tendo até um rival, o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato.

(Quando o caipira piava à vontade...)
- Ói a cartola dele
- Suba ! Senta ...senta
- Ói o pala!
- Ói o andá de corvo!
- Ô purguento! Guardanapo de tropêro!
- Sapicuá de lazarento!
- Baú de sordada!
- Barba de bugiu!
- Tição!
- Treze de maio!

Em certa ocasião, referindo-se a Cornélio Pires Monteiro Lobato disse que "o caboclo do Cornélio é uma bonita estilização sentimental, poética ultra-romântica fulgurante de piadas e rendosa. O Cornélio vive e passa bem, ganha dinheiro gordo com sua exibições que faz do seu caboclo. Dá caboclo em conferência a cinco mil réis a cadeira e ao público mija de tanto rir".

Essa declaração pouco amistosa de Lobato é atribuida pelos biógrafos de Lobato a um momento de ciumeira entre dois concorrentes, já que os personagens que ambos criaram disputavam o mesmo público. Mas aí, então é inevitável a pergunta – porque Lobato ficou e Cornélio não?

Hélio Damante arrisca uma opinião ao salientar que "Lobato teve um editor e soube investir na sua própria obra, no seu futuro. Já Cornélio, além de não ter se organizado enquanto autor, tem suas obras fora do alcance do leitor desde 1950".

Damante acredita que mesmo Lobato está com seu espaço se restringindo apesar de muito conhecido e cultuado no meio educacional. "A criança - diz ele - aprecia mais o superman do que o visconde de Sabugosa já que o primeiro está mais próximo do mundo em que ele vive. Isso é inevitável em relação às crianças referentes ao universo caboclo embora alguns traços dessa cultura tenham se tornado definitivos já que foram incorporados ao cotidiano . Um exemplo? É muito comum ouvir repórteres de conceituados canais de televisão carregarem da expressão às direitas, muito familiar ao matuto do interior de São Paulo".

Para Damante, é inegável o impacto da cultura de massa que, na sua opinião já atingiu em cheio a música sertaneja, "hoje descaracterizada em relação a sua raiz. A urbanização é um dado contra o qual nada se pode fazer. Além do mais novas realidades surgem realimentado velhos costumes e atribuindo-lhes outra dinâmica".

A miscigenação nordestina, tão presente no interior paulista mistura seus hábitos e costumes aos da terra, promovendo uma nova mobilidade naquele universo produzindo outros traços culturais. Partindo dessa análise, Damante lembra ainda que: "se Cornélio Pires fosse vivo, na certa transportaria essas mudanças para seus relatos, como fez na sua época com as vivências dos italianos, habitantes do interior e muitas vezes personagens de seus livros".