segunda-feira, 17 de julho de 2006

O pato

“O Pato” fazia parte do repertório dos Garotos da Lua desde o final dos anos quarenta. Entretanto, jamais foi gravado pelo conjunto e, provavelmente, permaneceria inédito em disco se não tivesse caído nas graças de João Gilberto.

Ex-crooner do grupo, João apaixonara-se por este samba inusitado e fez questão de incluí-lo em seu segundo elepê. Jaime Silva (1921-1973) era um mulato alto, elegante e simpático”, segundo Ruy Castro no livro Chega de saudade. Alagoano de nascimento, mas morando no Rio desde menino, era sapateiro do serviço de intendência do Exército, além de pandeirista e eventual compositor, nas horas vagas. Costumava namorar sua futura esposa, Maria, no Campo de Santana, Zona Centro do Rio de Janeiro, onde observando patos e marrecos se esbaldarem no laguinho local prometia, contemplativo: “ainda vou fazer uma música com esses patinhos...”.

E isso de fato logo aconteceu, quando ele compôs, com a parceira Neuza Teixeira, “Aves no Samba”, título que modificaria para “O Pato”, por sugestão de João Gilberto. Como “Lobo Bobo”, “O Pato” acabou caracterizando o lado galhofeiro da bossa nova, concentrado na letra que descreve a exótica cena de um quarteto vocal, formado pelo pato, o marreco, o ganso e o cisne ensaiando à beira da lagoa o “Tico-Tico no Fubá”.

Além da graciosa interpretação do João, contribuiu para o sucesso da canção o saboroso arranjo timbrístico de Tom Jobim, elaborado com o cantor nos dez dias de janeiro de 1960 passados no sítio em Poço Fundo onde o disco foi concebido.


João Gilberto
Destaca-se nesse arranjo um contraponto da flauta (respondendo às palavras “o Tico-Tico no Fubá”) e do clarone, com intervenções tão marcantes aos “qüem-qüem”, que suas frases terminaram por se incorporar à própria composição. O final em fade-out é um dos momentos mais deliciosos da bossa nova, com possibilidades de variações harmônicas e de improvisos que parecem não ter fim. Não foi assim à toa que Jobim escreveu na contracapa desse álbum: “E tudo foi feito num ambiente de paz e passarinho. P.S. — As crianças adoraram ‘O Pato’.” (A Canção no Tempo - Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Ed. 34).

O pato (samba bossa, 1960) - Jaime Silva / Neuza Teixeira

Tom: C6
Intro: (C6/9)
C6/9                     D7/9
O pato vinha cantando alegremente, quém, quém
Dm7/9 G6/7
Quando um marreco sorridente pediu
C6/9
Pra entrar também no samba, no samba, no samba
  C6/9                         D7/9
O ganso gostou da dupla e fez também quém, quém
Dm7/9 G6/7
Olhou pro cisne e disse assim "vem, vem"
C6/9 F6/7 C6/9 C7/9
Que o quarteto ficará bem, muito bom, muito bem
             F7+
Na beira da lagoa foram ensaiar
D7/9 G6/7 C6/9 C7/9
Para começar o tico-tico no fubá
F7+ Fm6 C7+/E C7/9
A voz do pato era mesmo um desacato
F7+ Fm6 C7+/E C7/9 F7+
Jogo de cena com o ganso era mato
Fm6 C7+/E D7/9
Mas eu gostei do final quando caíram n'água
G6/7 C6/9
E ensaiando o vocal
(C6/9 D7/9 Dm7/9 G6/7)
quém, quém, quém, quém
quém, quém, quém, quém
quém, quém, quém, quém

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