segunda-feira, 24 de julho de 2006

Homenagem ao malandro

À época da estréia do musical “Ópera do Malandro”, Chico Buarque descreveu e justificou o ambiente da peça em entrevistas a Isto É e Manchete: “Nós pegamos a Lapa, os bordéis, os agiotas, os contrabandistas, os policiais corruptos, os empresários inescrupulosos. (...) Tomamos como ponto de partida o que o italiano chama de Malacittá, o bas fond. Esta Lapa (que) começava a morrer era o prenúncio de uma série de outras mortes: da malandragem, de Madame Satã, de Geraldo Pereira, de Wilson Batista. Foi o fim da era de ouro do sambista urbano carioca.”

Essa história está contada na letra de “Homenagem ao Malandro”, uma das melhores composições do musical: “Eu fui fazer um samba em homenagem / à nata da malandragem / que conheço de outros carnavais / eu fui à Lapa e perdi a viagem / que aquela tal malandragem não existe mais...” E prossegue, retratando o “novo” malandro, “o malandro profissional”, “oficial”, “candidato a malandro federal”, arrematando: “Mas o malandro pra valer / — não espalha — / aposentou a navalha / (...) / até trabalha / mora lá longe e chacoalha / num trem da Central...”

“Homenagem ao Malandro” é um samba rasgado, com direito a solo de trombone do grande Maciel, breques e uma adequada interpretação de Chico Buarque. No álbum duplo do musical, só lançado em dezembro de 79, este samba é cantado pelo malandro Moreira da Silva, que vive assim o personagem João Alegre (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Homenagem ao malandro (1978) - Chico Buarque
[Intro:] F7M Fm7 E7(13) E7(b13) A7(9) A7(b9) Dm7 G7(b9) C7M

C#m7(b5) Dm7(b5) D#m7(b5) Em7(b5) A7(b13) D7(13)
Eu fui fa...zer um samba em home...nagem
D7(b13) Dm7 G7(b9) C6(9)
À nata da malandragem, que conheço de outros carnavais
C#m7(b5) Dm7(b5) D#m7(b5) Em7(b5) A7(b13) D7(13)
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
D7(b13) Dm7 G7(b9) C7M(9)
Que aquela tal malandragem não existe mais

A7(13) D7(9) G7(13)
Agora já não é normal, o que dá de malandro regular profissional
C7M(9) A7(13)
Malandro com o aparato de malandro oficial,
D7(9) G7(13)
Malandro candidato a malandro federal,
C7M(9) Gm7 C7(9)
Malandro com retrato na coluna social;
F7M D7(9)
Malandro com contrato, com gravata e capital,
Dm7(9) G7(13)
Que nunca se dá mal

Mas o malandro para valer, não espalha,
Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe e chacoalha num trem da Central

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