terça-feira, 6 de junho de 2006

Preta Pretinha

Moraes Moreira
No livro Anos 70: novos e baianos, Luiz Galvão conta a história da canção “Preta Pretinha”, que nasceu de um romance frustrado do compositor com uma jovem niteroiense: “A jovem combinou comigo para que eu fosse a Niterói conhecer seu pai e, na volta, ela viria morar comigo no apartamento dos Novos Baianos, em Botafogo. Pegamos a barca, conheci o pai dela, mas, na volta, ela se arrependeu e voltou para o seu namorado.

À noite, escrevi a letra sob o impacto desse insucesso e, na certa, o subconsciente deu uma panorâmica em todas as minhas histórias de amor.” Assim, veio-lhe à lembrança a figura de Socorrinho (“Só, somente só...”), uma antiga namorada de Juazeiro, que completou a inspiração para os versos de “Preta Pretinha”: “Enquanto eu corria / assim eu ia / lhe chamar / enquanto corria a barca / em minha cabeça / não passava / só, somente só? assim vou lhe chamar? assim você vai ser / lá-já-lá-iá / lá-iá-lá-iá-lá-iá / preta, preta pretinha / (...) / abre a porta e a janela / e vem ver o sol nascer...”

A música de Moraes Moreira para esta letra — comparada por Augusto de Campos a um poema de Oswald de Andrade — saiu espontaneamente e tem grande simplicidade harmônica, sendo possível acompanhá-la apenas com dois acordes. Isso lhe enseja a possibilidade de tornar-se uma das primeiras músicas a serem incluídas no repertório de quem principia o estudo de violão.

Na gravação dos Novos Baianos, realizada em quatro canais no estúdio da Somil, com um bandolim a portuguesa tocado por Pepeu Gomes na introdução, essa singeleza foi habilmente enfeitada por Moraes, ao repetir e enfatizar trechos da canção, tanto na primeira como na segunda parte, o que lhe deu uma feição mais rica dc que se fosse seguido o formato básico A-A1-B.

A insistente repetição dos versos “eu ia lhe chamar / enquanto corria a barca”, com a participação do coro e um salto de oitava do cantor, criou um mini-refrão de grande efeito e, certamente, mais uma razão para fazer de “Preta Pretinha” o principal sucesso dos Novos Baianos. Daí o motivo de ter sido várias vezes gravada por Moraes e até aproveitada na propaganda de uma cadeia de lojas de perfumaria, o que proporcionou a Galvão a compra de um Sítio, com os rendimentos dos direitos recebidos (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Preta pretinha (1972) - Moraes Moreira e Galvão
(intro) A7 G  G Gm F#m B7 E

(A7 D)
Enquanto eu corria, assim eu ia
G D
Eu ia lhe chamar enquanto corria a barca (2x)
Por minha cabeça não passava
Só, só, somente só
Assim vou lhe chamar, assim você vai ser (2x)

G Gm F#m B7 E
Lá iá lá lá iá, lá lá lá iá, lá iá
A7 G D
Preta, preta, pretinha (4x)
(A7 D)
Abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer (2x)
Eu sou um pássaro que vivo avoando
Vivo avoando sem nunca mais parar
Ai, ai, ai, ai saudade não venha me matar (2x)

Nenhum comentário:

Postar um comentário