quinta-feira, 9 de março de 2006

Quincas Laranjeiras

Quincas Laranjeiras (Joaquim Francisco dos Santos), violonista e compositor, nasceu em Olinda, PE, em 08/12/1873, e faleceu no Rio de Janeiro em 04/02/1935. Filho de José Francisco dos Santos e de Flausina Maria dos Santos, veio para o Rio de Janeiro com apenas seis meses de idade. Seu pai era carpinteiro de profissão, embora gozasse fama de bom violeiro.

Com 11 anos, foi trabalhar na Fábrica de Tecidos Aliança, em Laranjeiras, bairro onde morava desde sua chegada à cidade. Daí a origem de seu apelido. Iniciou seus estudos musicais com João Elias, professor e regente da Banda da Fábrica, como estudante de flauta, passando em seguida ao violão.

Em 1889, tornou-se funcionário da antiga Inspetoria de Higiene e Assistência, posteriormente Departamento Municipal de Assistência. Aposentou-se em 1925, sendo saudado por seu chefe pelos "bons serviços, prestados com zelo, dedicação e escrupulosa honestidade". Em 1926 passou a residir na Rua Nascimento Silva, em Ipanema.

Freqüentava a Casa de Música Rabeca de Ouro, instalada na Rua da Carioca, onde travou conhecimento com os grandes violonistas da época. Junto a outros colegas do instrumento, colaborou para a fundação e organização da Estudantina Arcas, onde passou a lecionar violão. Destacou-se como violonista da orquestra da Estudantina Euterpe, formada à base de instrumentos de corda. Participou do grupo que se reunia no Cavaquinho de Ouro situado na atual Rua da Carioca, do qual faziam parte Heitor Villa-Lobos, Anacleto de Medeiros, Zé do Cavaquinho, Juca Kalut, João Pernambuco, Irineu de Almeida, entre outros.

Foi uma das figuras de destaque da orquestra do Rancho Ameno Resedá. Além de acompanhador, foi solista do instrumento, tendo estudado e executado obras de Carcassi, Carulli, marcando uma atuação mais voltada para o violão clássico. Acredita-se que tenha sido o introdutor do ensino de violão por música no Rio de Janeiro, utilizando o Método de Dionísio Aguado. Posteriormente, foi um grande divulgador do método "A escola de Tárrega". Dentre seus alunos, destacam-se Levino Albano da Conceição, José Augusto de Freitas e Antônio da Costa Rabello.

Em 1928, passou a colaborar com a revista " O Violão", apresentando nos dois números iniciais arranjos para violão das obras "A casinha do meu bem" e "Casa de caboco", de Hekel Tavares e Luiz Peixoto. Sua composição mais conhecida, a valsa "Dores d'alma", é um exemplo pioneiro na utilização do arraste - efeito resultante do deslizar de um dedo sobre a corda grave do violão - e que será popularmente conhecido com a interpretação de Dilermando Reis.

Participou ao lado de Sátiro Bilhar, Chico Borges, Mário Cavaquinho, Irineu de Almeida, entre outros, da serenata em homenagem a Santos Dumont, organizada por Eduardo das Neves em 7 de setembro de 1903. Convidado por Catulo da Paixão Cearense, participou como seu acompanhador do concerto realizado no Instituto Nacional de Música, apresentando-se também como solista. Em sua casa na Rua Nascimento Silva, em Ipanema, reunia alunos e amigos dentre os quais Patrício Teixeira, João Pernambuco e José Rebelo da Silva. Obras: Andantino, Dores d'alma, Prelúdio em ré menor, Sabará, Sonhos que passam.

Quincas Laranjeira

Quincas Laranjeira
1919: Quincas (sentado com o violão), ao lado de Catulo Cearense (de pé). Foto do Acervo da Biblioteca Nacional.

"Quincas Laranjeira era bom amigo, exímio violonista, grande artista, modesto e atencioso, de maneiras esplendorosas, por isso tinha em cada colega do choro um verdadeiro admirador de suas excelentes qualidades. Como funcionário Municipal, era fiel cumpridor de seus deveres, na qualidade de porteiro de higiene, atendia o público com presteza e a delicadeza que lhe era peculiar. Aposentou-se no posto de escriturário, era primus interpari no circulo dos grandes chorões de violão, como executor e professor era valorizado, que digam os seus inúmeros discípulos que tanto o consideravam pela maneira afável que dispensava aos seus alunos, ele deixou muitas produções.

Quincas Laranjeira, sempre teve a sua época e finalmente desapareceu do meio de seus amigos e dos chorões da velha guarda, sem que a nossa imprensa lhe prestasse as honras que merecia, partindo com ele todas as suas ilusões de um artista que elevou o seu nome e de seu instrumento o violão, que teve nele um pedestal de glórias.

Quincas foi o continuador de Catullo, nos salões aristocráticos do violão, elevando-o até ao Conservatório de Música para depois ser conquistado pela nata social, onde o violão tem primazia quando manejados por tocadores do quilate de Quincas Laranjeira."

O Choro - Reminiscências dos chorões antigos - Rio de Janeiro, 1936 (Alexandre Gonçalves Pinto)

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