sábado, 18 de março de 2006

Os olhos dela

Mário Pinheiro
Os olhos dela (chótis, 1906) - Catulo da Paixão Cearense e Irineu de Almeida

Eu sou capaz de confessar / Aos pés de Deus / Que eu nunca vi em mundo algum / Uns olhos como os teus! / Eu não sei mesmo / Como os hei de comparar, não sei / Eu já tentei cantar / O teu divino olhar

Mário Pinheiro
Depois de tanto versejar / Debalde em vão / Depois de tanto apoquentar / A minha inspiração / Cheguei à triste conclusão / De que eu só sei sofrer / E o que teus olhos são / Não sei dizer

Deixa-te estar que quando eu morrer / Irei verter os prantos meus nos céus / Hei de contar em segredo a Deus / As travessuras desses olhos teus / Hei de mostrar ao Senhor Jesus / Ao Pai nos céus, apiedado / Meu coração crucificado / Nos braços teus de luz

Os olhos teus são lágrimas do amor / Os olhos teus são dois suspiros de uma flor / São dois soluços d’alma / São dois cupidos de poesia / Que sinfonia tem o teu olhar / Que até às vezes já nos faz chorar! / Ai, quem me dera me apagar assim / À luz do teu olhar!

Os olhos teus / Quando nos querem castigar / Parecem dois astros de gelo / Que nos vêm gelar / Mas quando querem nos ferir / Direito o coração / Eu não te digo não / O que os teus olhos são

Pois quando o mundo quiser / De vez findar / Basta acendê-lo com um raio / Desse teu olhar / Que os olhos todos das mulheres / Que mais lindas são / Dos olhos teus / Não têm a irradiação

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