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terça-feira, 19 de setembro de 2006

João Pacífico

"Se um dia vocês virem as folhas amarelas, não reparem, foi a saudade quem pintou" (João Pacífico, 05/08/1909-30/12/1998).

Desde 1923 um grupo de oficiais e alguns civis conspiravam contra o governo de Artur Bernardes. Embora estendida por todo o país, a conspiração concentrava-se em São Paulo e era liderada pelo general Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel Costa, além de João Cabanas e Joaquim Távora, contando com o apoio da Força Pública Estadual.

Na madrugada de 5 de julho de 1924, São Paulo caiu nas mãos dos revoltosos. Três dias depois, o Presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos, entregou a cidade ao comando revolucionário. Tomado de surpresa, o governo federal mobilizou suas forças (14 mil legalistas contra 3.500 revoltosos) e bombardeou a cidade às cegas, atingindo residências particulares e civis assustados.

Foi nesse clima, em plena revolução paulista de 1924 que um sujeito chamado João Pacífico, então funcionário da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, desembarcou na cidade de São Paulo.

Naquela época, esse neto de escravos que havia nascido numa fazenda perto de Cordeirópolis, cursado o grupo escolar em Limeira, jamais pensaria um dia virar cidadão paulistano, receber discos de ouro e compôr mais de 1.200 músicas, além de ser um dos maiores compositores da música sertaneja do Brasil. Pois a revolução de 1924, já é coisa do passado.

Entretanto, o início da profissionalização de João Pacífico, só iria ocorrer 10 anos depois, em 1934, quando começa a trabalhar na Rádio Cruzeiro do Sul, "que não tinha programa de auditório, mas tinha um dos mais competentes estúdios do país".

Seu ingresso na rádio foi resultado de um encontro entre o futuro compositor e o príncipe dos poetas, Guilherme de Almeida no carro-restaurante de um dos trens da Paulista: "Eu declamei uma poesia minha para ele, que gostou e me deu um cartão para eu me apresentar na Cruzeiro do Sul. Na rádio, Guilherme me apresentou ao Raul Torres. Então começou a minha vida sertaneja."

Pacífico hoje é um bem sucedido moleque (no sentido carinhoso do termo), de 74 anos, morando numa gostosa casa em São Paulo. Ao lembrar do começo de sua carreira, dá uma sonora gargalhada e fala que quando veio para São Paulo em 1924 continuou o trabalho na Companhia Paulista e depois foi trabalhar na Sociedade Harmonia de Tênis, "eu fui prá lá indicado por um amigo, e fiquei por onze anos, pois a rádio era só bico. Só sai do Harmonia porque um dos diretores do clube que também era diretor do Banco Ítalo-Belga me levou para trabalhar com ele. No banco eu fiquei 38 anos, até me aposentar. Aliás, tenho duas aposentadorias: bancário e compositor. Uma com 38 anos de trabalho e outra com 45".

Voltando a falar de sua "vida sertaneja", João Pacífico conta que sua primeira música gravada foi uma embolada. Isso porque na época – no final da década de 1920 – quem começasse tinha que começar mesmo com embolada, pois era o que as gravadoras queriam lançar. A embolada foi gravada por Raul Torres e Aurora Miranda, saiu pelo selo Odeon, e foi feita em homenagem a um amigo de Pacífico que morava em Campinas.

Foi assim que Seu João Nogueira virou nome de música com o seguinte estribilho: "Seu João Nogueira/ O que é essa mariquinha / eu vou soltar meu galo / prá prender a sua galinha". "Mas depois de falar em galo e galinha", diz, "eu passei para o romance, para a tragédia. A primeira música minha que ficou realmente conhecida foi Chico Mulato (Na volta daquela estrada/ bem em frente de uma encruzilhada/ todo ano a gente via/ lá no meio do terreiro/ a imagem do padroeiro/ São João da Freguesia/ do lado tinha a fogueira/ e ao redor, a noite inteira/ tinha caboclo violeiro/ tinha a tal de Terezinha/ cabocla bem bonitinha, sambava neste terreiro...).

Com essa música, eu comecei aquelas histórias de declamar e depois cantar, pois minhas letras dão sempre metro e meio de verso e os intérpretes tinham dificuldades em colocar isso tudo num 78 RPM".

João Pacífico conta que uma vez Mister Evans, chairman da Colúmbia no Brasil, mandou cortar um pouco a orquestração, apertar um pouquinho, imprimir um pouco mais depressa, enfim, mandou dar um jeito para que a música coubesse todinha em um lado do 78 RPM, mas "o interessante é que ele gostou, e mandou me avisar que quando fizesse outras músicas, fizesse daquele jeito de – e capricha no sotaque – falar e cantar. Segui o conselho e logo em seguida não só fiz com o proseado e canto, mas fiz a minha primeira vítima em música: matei a personagem."

A música é a hoje clássica Cabocla Tereza, gravada em 1936. A primeira gravação de Cabocla Tereza foi feita pelo Raul Torres (proseado) e Florêncio (parte cantada), é até hoje ainda gravada. Sem dúvida alguma, é uma das composições mais conhecidas de Pacífico. A história de um sujeito que, enciumado, possessivo, acaba matando a amada porque ela "felicidade não quis". Esta é uma das músicas mais conhecidas do cancioneiro nacional.

Composta cerca de quatro anos antes da data de gravação, Cabocla Tereza se encaixa perfeitamente na argumentação que João Pacífico dá à aceitação das suas músicas. Para ele, o caboclo gosta de história completa, gosta de música que tem começo, meio e fim, gosta dessa coisa de folhetim, de história como se fosse notícia de jornal.

"O caboclo é muito simples nisso, ele gosta muito que uma música conte uma história, uma história com a qual ele se identifique. Eu percebi isso quase que sem querer, apenas sentindo a aceitação do público pela minha música", conta Pacífico.

Existe um questão que intriga o compositor com relação a esta música: "Olha, quase todas as duplas do país já gravaram músicas minhas e, ainda hoje, chega gente aqui em casa e fala: "Seu João, a gente queria gravar Cabocla Tereza", e eu respondo: mas a Cabocla Tereza já tá velha, já teve enfarte. Tem tanta coisa nova por ai, mas não, eles insistem e eu tenho que deixar."

Velha, enfartada ou não, o fato é que esta música virou roteiro e depois filme. Filme que deu chances para que João Pacífico pudesse utilizar suas qualidades de compositor num trabalho, para ele, até então inédito, aliás, dois: trabalhar sob encomenda e fazer uma trilha para cinema.

Para isso o compositor assistiu ao copião e depois sentou – era um início de noite – numa austera mesa de jacarandá que existe em sua sala de visitas. Quando começou a amanhecer o dia, o trabalho estava feito: cada trecho – para ele - importante do filme tinha uma música que se encaixava com o clima. Pacífico aproveita a deixa do filme e reclama que a Chantecler, gravadora que lançou o disco, só lhe deu um que foi devidamente roubado.

Depois de Cabocla Tereza, o grande sucesso de João Pacífico foi com a música Pingo d'água, composta em 1944 na cidade paulista de Barretos, "numa época em que o sertão paulista estava amargando uma seca de sete meses, o gado já definhando e boa parte dele estava até morrendo.

Safra de café então – faz um gesto largo –, nem pensar mais. Mas o pior é que – e disso eu me lembro bem – o disco saiu no dia 5 de agosto de 1944. No mesmo dia, eu cantei a música no Programa Minerva da rádio Record que, na época era um colosso. Uma semana depois, choveu até dizer chega. Quase que viro milagreiro".

João aproveita o mote das chuvas e lembra que em 1960 fez uma música sobre a seca do nordeste, "mas logo em seguida foi um tal de chover tanto que chegou até a morrer gente. O Orós no Ceará, encheu, deu aqueles problemas todos, e felizmente a gravadora que ia lançar a música, a RCA, segurou o disco. Só agora em outubro de 1993 é que eu voltei a cantar a música no programa Som Brasil do Rolando Boldrin".

Mas Pingo d’água também foi um sucesso e, contrariando a regra do compositor, ela não tinha proseado: - "Eu fiz promessa/ prá que Deus mandasse chuva/ que molhasse a minha roça/ e vingasse a plantação...".

Falando sobre sua temática sertaneja, João Pacífico, sem grandes artifícios justifica-se – "afinal é mais fácil falar vançeis do que vocês, concorda?" – e, em seguida, diz que naturalmente influiu muito o fato de ter nascido em fazenda em pleno sertão paulista e as imagens da fazenda que ele guardou. Lembra ainda da figura de sua mãe que lhe contava e cantava muitas coisas, "e isso entrou em mim de um jeito muito forte e ficou, pois, escrever sobre sertão ou sobre fazenda hoje em dia e aqui no asfalto, não é muito fácil não.

Claro que de vez em quando eu faço alguma poesia diferente, mas a minha temática mesmo é a sertaneja. Eu gosto disso, pois as letras tem enredo, contam histórias, não tem aquilo que hoje em dia é normal e muito usado, que é um tal de põe ela na cama, tira versos, eu não gosto disso não".

Outra coisa peculiar dentro desta temática toda é o "processo de parto" de uma música: às vezes João tem o título, e sai o verso melódico junto com o poema, então "é só perseguir que vai saindo tudo junto, música e letra", diz. Naturalmente que o compositor depois burila, lapida, e sempre, conforme ele gosta de frisar, "sai metro e meio de verso", mas claro que tem sempre uma exceção. Pacífico fez a sua menor letra, que para ele conta toda sua vida. Esta menor letra tem "dois versinhos" e se chama Fiozinho d’água.

Cenas, fotos e lembranças são a matéria-prima que o poeta retira para o seu trabalho. Isso tudo em um movimento ininterrupto. Aquilo que aos olhos normais passa desapercebido, para o poeta adquire métrica, ritmo e melodia. Um exemplo disso é o poema/música chamado Goteira.

João conta que um dia estava sozinho em casa e chovia. No fundo do quintal, uma calha jogava água sobre uma lata abandonada. Foi o suficiente para nascer esta composição: - Aquela noite chovia que Deus dava/ aquela chuva que varou a noite a noite inteira/ no meu telhado uma telha se quebrava/ pre’u ouvir a sinfonia da goteira/ e uma lata enferrujada, coitadinha/ tão esquecida lá num canto onde eu dormia/ talvez a chuva vendo a pobre tão sozinha/ veio alentar/ cantando aquela melodia/ Veja seu moço/ eu também passei por isso/ fiquei igual aquela lata esquecida/ com a tristeza/ assumi um compromisso/ depois senti que a solidão/ não era vida/ e então pedi a Deus que me ajudasse/ e que voltasse minha doce companheira/ e no meu rancho outra telha se quebrasse/ pois tive inveja/ do carinho da goteira.

Embora defenda com unhas e dentes os valores da temática com que vem trabalhando há 53 anos, João não é sectário e muito menos revanchista, quer sobre novas tendências existentes dentro do mesmo filão que faz parte, quer sobre outras tendências musicais.

Sobre as novas tendências musicais dentro da música sertaneja, Pacífico vê até com certa satisfação as novas correntes, "pois vejo evolução, inclusive no que diz respeito à orquestração e instrumentação utilizadas nas músicas; vejo também que existe cada vez mais interesse dos jovens pela música sertaneja, bem como uma aceitação cada vez maior em todos os setores por esta mesma música.

Veja o meu caso por exemplo, hoje a minha música chegou até no salões quando eu faço shows em faculdades, os alunos conhecem a minha música. Agora eu só tenho medo – ressalta – que tanto ânimo assim acabe machucando a melodia, não que fique feio, mas é que descaracteriza. Tanto é que eu nunca fiz nada para o Milionário e José Rico. Agora Tonico e Tinoco, por exemplo, já gravaram quase todo o meu repertório".

Sobre outras tendências musicais Pacífico diz que quando surgiram ritmos como o charleston e o twist "eu ficava debaixo da ponte. Quando a moda passava, eu saía debaixo da ponte e fazia uma toada. O mesmo aconteceu com outros ritmos, mas, nestes períodos de hibernação, eu sempre continuei compondo, daí quando o pessoal cansa destes modismos todos, eu surjo e avanço".

Assim é esse homem, contador de belas histórias, apreciador de uma boa cachaça de alambique – tem um tonel invejável em sua sala de visitas – e poeta que conta as coisas de um modo simples e verdadeiramente belo, para um povo também simples, mas que nunca deve ser subestimado, construiu sua vida.

Sem segredos, este é o melhor lema para um molecão que está em sua melhor forma hoje, aos 74 anos, e cada vez mais com coisas belas para contar e cantar. (Extraído de DEFESA DA CULTURA NACIONAL, nº 3, 1984, não constando o nome do autor da matéria)

Fonte: Jangada Brasil de fevereiro de 1999.

João Pacífico

"Se um dia vocês virem as folhas amarelas, não reparem, foi a saudade quem pintou" (João Pacífico, 05/08/1909-30/12/1998).

Desde 1923 um grupo de oficiais e alguns civis conspiravam contra o governo de Artur Bernardes. Embora estendida por todo o país, a conspiração concentrava-se em São Paulo e era liderada pelo general Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel Costa, além de João Cabanas e Joaquim Távora, contando com o apoio da Força Pública Estadual.

Na madrugada de 5 de julho de 1924, São Paulo caiu nas mãos dos revoltosos. Três dias depois, o Presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos, entregou a cidade ao comando revolucionário. Tomado de surpresa, o governo federal mobilizou suas forças (14 mil legalistas contra 3.500 revoltosos) e bombardeou a cidade às cegas, atingindo residências particulares e civis assustados.

Foi nesse clima, em plena revolução paulista de 1924 que um sujeito chamado João Pacífico, então funcionário da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, desembarcou na cidade de São Paulo.

Naquela época, esse neto de escravos que havia nascido numa fazenda perto de Cordeirópolis, cursado o grupo escolar em Limeira, jamais pensaria um dia virar cidadão paulistano, receber discos de ouro e compôr mais de 1.200 músicas, além de ser um dos maiores compositores da música sertaneja do Brasil. Pois a revolução de 1924, já é coisa do passado.

Entretanto, o início da profissionalização de João Pacífico, só iria ocorrer 10 anos depois, em 1934, quando começa a trabalhar na Rádio Cruzeiro do Sul, "que não tinha programa de auditório, mas tinha um dos mais competentes estúdios do país".

Seu ingresso na rádio foi resultado de um encontro entre o futuro compositor e o príncipe dos poetas, Guilherme de Almeida no carro-restaurante de um dos trens da Paulista: "Eu declamei uma poesia minha para ele, que gostou e me deu um cartão para eu me apresentar na Cruzeiro do Sul. Na rádio, Guilherme me apresentou ao Raul Torres. Então começou a minha vida sertaneja."

Pacífico hoje é um bem sucedido moleque (no sentido carinhoso do termo), de 74 anos, morando numa gostosa casa em São Paulo. Ao lembrar do começo de sua carreira, dá uma sonora gargalhada e fala que quando veio para São Paulo em 1924 continuou o trabalho na Companhia Paulista e depois foi trabalhar na Sociedade Harmonia de Tênis, "eu fui prá lá indicado por um amigo, e fiquei por onze anos, pois a rádio era só bico. Só sai do Harmonia porque um dos diretores do clube que também era diretor do Banco Ítalo-Belga me levou para trabalhar com ele. No banco eu fiquei 38 anos, até me aposentar. Aliás, tenho duas aposentadorias: bancário e compositor. Uma com 38 anos de trabalho e outra com 45".

Voltando a falar de sua "vida sertaneja", João Pacífico conta que sua primeira música gravada foi uma embolada. Isso porque na época – no final da década de 1920 – quem começasse tinha que começar mesmo com embolada, pois era o que as gravadoras queriam lançar. A embolada foi gravada por Raul Torres e Aurora Miranda, saiu pelo selo Odeon, e foi feita em homenagem a um amigo de Pacífico que morava em Campinas.

Foi assim que Seu João Nogueira virou nome de música com o seguinte estribilho: "Seu João Nogueira/ O que é essa mariquinha / eu vou soltar meu galo / prá prender a sua galinha". "Mas depois de falar em galo e galinha", diz, "eu passei para o romance, para a tragédia. A primeira música minha que ficou realmente conhecida foi Chico Mulato (Na volta daquela estrada/ bem em frente de uma encruzilhada/ todo ano a gente via/ lá no meio do terreiro/ a imagem do padroeiro/ São João da Freguesia/ do lado tinha a fogueira/ e ao redor, a noite inteira/ tinha caboclo violeiro/ tinha a tal de Terezinha/ cabocla bem bonitinha, sambava neste terreiro...).

Com essa música, eu comecei aquelas histórias de declamar e depois cantar, pois minhas letras dão sempre metro e meio de verso e os intérpretes tinham dificuldades em colocar isso tudo num 78 RPM".

João Pacífico conta que uma vez Mister Evans, chairman da Colúmbia no Brasil, mandou cortar um pouco a orquestração, apertar um pouquinho, imprimir um pouco mais depressa, enfim, mandou dar um jeito para que a música coubesse todinha em um lado do 78 RPM, mas "o interessante é que ele gostou, e mandou me avisar que quando fizesse outras músicas, fizesse daquele jeito de – e capricha no sotaque – falar e cantar. Segui o conselho e logo em seguida não só fiz com o proseado e canto, mas fiz a minha primeira vítima em música: matei a personagem."

A música é a hoje clássica Cabocla Tereza, gravada em 1936. A primeira gravação de Cabocla Tereza foi feita pelo Raul Torres (proseado) e Florêncio (parte cantada), é até hoje ainda gravada. Sem dúvida alguma, é uma das composições mais conhecidas de Pacífico. A história de um sujeito que, enciumado, possessivo, acaba matando a amada porque ela "felicidade não quis". Esta é uma das músicas mais conhecidas do cancioneiro nacional.

Composta cerca de quatro anos antes da data de gravação, Cabocla Tereza se encaixa perfeitamente na argumentação que João Pacífico dá à aceitação das suas músicas. Para ele, o caboclo gosta de história completa, gosta de música que tem começo, meio e fim, gosta dessa coisa de folhetim, de história como se fosse notícia de jornal.

"O caboclo é muito simples nisso, ele gosta muito que uma música conte uma história, uma história com a qual ele se identifique. Eu percebi isso quase que sem querer, apenas sentindo a aceitação do público pela minha música", conta Pacífico.

Existe um questão que intriga o compositor com relação a esta música: "Olha, quase todas as duplas do país já gravaram músicas minhas e, ainda hoje, chega gente aqui em casa e fala: "Seu João, a gente queria gravar Cabocla Tereza", e eu respondo: mas a Cabocla Tereza já tá velha, já teve enfarte. Tem tanta coisa nova por ai, mas não, eles insistem e eu tenho que deixar."

Velha, enfartada ou não, o fato é que esta música virou roteiro e depois filme. Filme que deu chances para que João Pacífico pudesse utilizar suas qualidades de compositor num trabalho, para ele, até então inédito, aliás, dois: trabalhar sob encomenda e fazer uma trilha para cinema.

Para isso o compositor assistiu ao copião e depois sentou – era um início de noite – numa austera mesa de jacarandá que existe em sua sala de visitas. Quando começou a amanhecer o dia, o trabalho estava feito: cada trecho – para ele - importante do filme tinha uma música que se encaixava com o clima. Pacífico aproveita a deixa do filme e reclama que a Chantecler, gravadora que lançou o disco, só lhe deu um que foi devidamente roubado.

Depois de Cabocla Tereza, o grande sucesso de João Pacífico foi com a música Pingo d'água, composta em 1944 na cidade paulista de Barretos, "numa época em que o sertão paulista estava amargando uma seca de sete meses, o gado já definhando e boa parte dele estava até morrendo.

Safra de café então – faz um gesto largo –, nem pensar mais. Mas o pior é que – e disso eu me lembro bem – o disco saiu no dia 5 de agosto de 1944. No mesmo dia, eu cantei a música no Programa Minerva da rádio Record que, na época era um colosso. Uma semana depois, choveu até dizer chega. Quase que viro milagreiro".

João aproveita o mote das chuvas e lembra que em 1960 fez uma música sobre a seca do nordeste, "mas logo em seguida foi um tal de chover tanto que chegou até a morrer gente. O Orós no Ceará, encheu, deu aqueles problemas todos, e felizmente a gravadora que ia lançar a música, a RCA, segurou o disco. Só agora em outubro de 1993 é que eu voltei a cantar a música no programa Som Brasil do Rolando Boldrin".

Mas Pingo d’água também foi um sucesso e, contrariando a regra do compositor, ela não tinha proseado: - "Eu fiz promessa/ prá que Deus mandasse chuva/ que molhasse a minha roça/ e vingasse a plantação...".

Falando sobre sua temática sertaneja, João Pacífico, sem grandes artifícios justifica-se – "afinal é mais fácil falar vançeis do que vocês, concorda?" – e, em seguida, diz que naturalmente influiu muito o fato de ter nascido em fazenda em pleno sertão paulista e as imagens da fazenda que ele guardou. Lembra ainda da figura de sua mãe que lhe contava e cantava muitas coisas, "e isso entrou em mim de um jeito muito forte e ficou, pois, escrever sobre sertão ou sobre fazenda hoje em dia e aqui no asfalto, não é muito fácil não.

Claro que de vez em quando eu faço alguma poesia diferente, mas a minha temática mesmo é a sertaneja. Eu gosto disso, pois as letras tem enredo, contam histórias, não tem aquilo que hoje em dia é normal e muito usado, que é um tal de põe ela na cama, tira versos, eu não gosto disso não".

Outra coisa peculiar dentro desta temática toda é o "processo de parto" de uma música: às vezes João tem o título, e sai o verso melódico junto com o poema, então "é só perseguir que vai saindo tudo junto, música e letra", diz. Naturalmente que o compositor depois burila, lapida, e sempre, conforme ele gosta de frisar, "sai metro e meio de verso", mas claro que tem sempre uma exceção. Pacífico fez a sua menor letra, que para ele conta toda sua vida. Esta menor letra tem "dois versinhos" e se chama Fiozinho d’água.

Cenas, fotos e lembranças são a matéria-prima que o poeta retira para o seu trabalho. Isso tudo em um movimento ininterrupto. Aquilo que aos olhos normais passa desapercebido, para o poeta adquire métrica, ritmo e melodia. Um exemplo disso é o poema/música chamado Goteira.

João conta que um dia estava sozinho em casa e chovia. No fundo do quintal, uma calha jogava água sobre uma lata abandonada. Foi o suficiente para nascer esta composição: - Aquela noite chovia que Deus dava/ aquela chuva que varou a noite a noite inteira/ no meu telhado uma telha se quebrava/ pre’u ouvir a sinfonia da goteira/ e uma lata enferrujada, coitadinha/ tão esquecida lá num canto onde eu dormia/ talvez a chuva vendo a pobre tão sozinha/ veio alentar/ cantando aquela melodia/ Veja seu moço/ eu também passei por isso/ fiquei igual aquela lata esquecida/ com a tristeza/ assumi um compromisso/ depois senti que a solidão/ não era vida/ e então pedi a Deus que me ajudasse/ e que voltasse minha doce companheira/ e no meu rancho outra telha se quebrasse/ pois tive inveja/ do carinho da goteira.

Embora defenda com unhas e dentes os valores da temática com que vem trabalhando há 53 anos, João não é sectário e muito menos revanchista, quer sobre novas tendências existentes dentro do mesmo filão que faz parte, quer sobre outras tendências musicais.

Sobre as novas tendências musicais dentro da música sertaneja, Pacífico vê até com certa satisfação as novas correntes, "pois vejo evolução, inclusive no que diz respeito à orquestração e instrumentação utilizadas nas músicas; vejo também que existe cada vez mais interesse dos jovens pela música sertaneja, bem como uma aceitação cada vez maior em todos os setores por esta mesma música.

Veja o meu caso por exemplo, hoje a minha música chegou até no salões quando eu faço shows em faculdades, os alunos conhecem a minha música. Agora eu só tenho medo – ressalta – que tanto ânimo assim acabe machucando a melodia, não que fique feio, mas é que descaracteriza. Tanto é que eu nunca fiz nada para o Milionário e José Rico. Agora Tonico e Tinoco, por exemplo, já gravaram quase todo o meu repertório".

Sobre outras tendências musicais Pacífico diz que quando surgiram ritmos como o charleston e o twist "eu ficava debaixo da ponte. Quando a moda passava, eu saía debaixo da ponte e fazia uma toada. O mesmo aconteceu com outros ritmos, mas, nestes períodos de hibernação, eu sempre continuei compondo, daí quando o pessoal cansa destes modismos todos, eu surjo e avanço".

Assim é esse homem, contador de belas histórias, apreciador de uma boa cachaça de alambique – tem um tonel invejável em sua sala de visitas – e poeta que conta as coisas de um modo simples e verdadeiramente belo, para um povo também simples, mas que nunca deve ser subestimado, construiu sua vida.

Sem segredos, este é o melhor lema para um molecão que está em sua melhor forma hoje, aos 74 anos, e cada vez mais com coisas belas para contar e cantar. (Extraído de DEFESA DA CULTURA NACIONAL, nº 3, 1984, não constando o nome do autor da matéria)

Fonte: Jangada Brasil de fevereiro de 1999.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Tema novo

Regional ou Sertaneja, A música

Tema novo - João Pacífico

Quis fazer um tema novo
E pensei bastante
Antes de escrever
Eu não quis falar de amor
Nem saudade, dor
E nada de sofrer
Em lugar de nostalgia
Quis dar alegria
Ao meu coração
Comecei tudo sorrindo
E que tema lindo
Para uma canção
Mas nesta segunda parte
Talvez por pura emoção
Fiz um acorde muito triste
Sem querer no violão
Transformou todo o meu tema
Acabei magoando meu coração
Ele é muito delicado
Em histórias de amor
Por incrível que pareça
Eu não pude mais
Eu não queria assim
Eu queria paz
Vejam só que ironia
Que amargura de um compositor
Tive que gravar chorando
E o tema terminei na dor

Tema novo

Regional ou Sertaneja, A música

Tema novo - João Pacífico

Quis fazer um tema novo
E pensei bastante
Antes de escrever
Eu não quis falar de amor
Nem saudade, dor
E nada de sofrer
Em lugar de nostalgia
Quis dar alegria
Ao meu coração
Comecei tudo sorrindo
E que tema lindo
Para uma canção
Mas nesta segunda parte
Talvez por pura emoção
Fiz um acorde muito triste
Sem querer no violão
Transformou todo o meu tema
Acabei magoando meu coração
Ele é muito delicado
Em histórias de amor
Por incrível que pareça
Eu não pude mais
Eu não queria assim
Eu queria paz
Vejam só que ironia
Que amargura de um compositor
Tive que gravar chorando
E o tema terminei na dor

Tapera caída

Regional ou Sertaneja, A música

Tapera caída - João Pacífico

Cabocla, se ocê soubesse
Quanto meu peito padece
Sofrendo tanta maldade
Vancê, eu sei, num se ria,
Mostrando tanta alegria,
Vendo eu chorar de sodade.
Essa sodade marvada,
Que fez no peito morada,
Depois que ocê me deixou,
Como tapera caída
Que foi p'os mato invadida
Depois que os dono mudou.
Vancê num sente saudade,
Ri de felicidade,
Tem outro amor,
Tem prazer.
Mas vancê, eu sei,
De contente,
Tem inveja dessa gente
Que não sabe o que é sofrer.
Cabocla se ocê soubesse
Quanto meu peito padece,
O que já passei na vida,
Vancê roçava esse mato
Que invadiu só de ingrato
Essa tapera caída.
Mas eu comparo a saudade
Com essa grama tiririca,
As foia verde se arranca,
Mas a raiz sempre fica.
E o coração é morada,
Sem morador não tem vida.
Vorte a reconstruir
Esta tapera caída

Tapera caída

Regional ou Sertaneja, A música

Tapera caída - João Pacífico

Cabocla, se ocê soubesse
Quanto meu peito padece
Sofrendo tanta maldade
Vancê, eu sei, num se ria,
Mostrando tanta alegria,
Vendo eu chorar de sodade.
Essa sodade marvada,
Que fez no peito morada,
Depois que ocê me deixou,
Como tapera caída
Que foi p'os mato invadida
Depois que os dono mudou.
Vancê num sente saudade,
Ri de felicidade,
Tem outro amor,
Tem prazer.
Mas vancê, eu sei,
De contente,
Tem inveja dessa gente
Que não sabe o que é sofrer.
Cabocla se ocê soubesse
Quanto meu peito padece,
O que já passei na vida,
Vancê roçava esse mato
Que invadiu só de ingrato
Essa tapera caída.
Mas eu comparo a saudade
Com essa grama tiririca,
As foia verde se arranca,
Mas a raiz sempre fica.
E o coração é morada,
Sem morador não tem vida.
Vorte a reconstruir
Esta tapera caída

Ranchinho abandonado

Regional ou Sertaneja, A música

Ranchinho abandonado - Raul Torres e João Pacífico

Você deixou o nosso ranchinho abandonado
Vive tão triste o coitado
Que dá pena até de ver.
Quando anoitece,
Bate a lua no caminho,
E eu lá dentro tão sozinho
Fico pensando em você
Pego a viola pra esquecer a minha mágoa
E os meus olhos rasos d'água
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade
Hoje eu não posso cantar
E o ranchinho continua aqui tristonho,
Acabou-se o antigo sonho,
Veio a tristeza morar.
Em seu lugar só restou essa viola
Que a minha dor consola
Quando, às vezes, me vê chorar.
Pego a viola pra esquecer a minha mágoa,
E o s meus olhos rasos d'água
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade
Hoje eu não posso cantar.

Ranchinho abandonado

Regional ou Sertaneja, A música

Ranchinho abandonado - Raul Torres e João Pacífico

Você deixou o nosso ranchinho abandonado
Vive tão triste o coitado
Que dá pena até de ver.
Quando anoitece,
Bate a lua no caminho,
E eu lá dentro tão sozinho
Fico pensando em você
Pego a viola pra esquecer a minha mágoa
E os meus olhos rasos d'água
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade
Hoje eu não posso cantar
E o ranchinho continua aqui tristonho,
Acabou-se o antigo sonho,
Veio a tristeza morar.
Em seu lugar só restou essa viola
Que a minha dor consola
Quando, às vezes, me vê chorar.
Pego a viola pra esquecer a minha mágoa,
E o s meus olhos rasos d'água
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade
Hoje eu não posso cantar.

Pingo d'água

Regional ou Sertaneja, A música

Pingo d'água - João Pacífico e Raul Torres
Tom: G
(intro) ( G D7 G C D7 G )

D7 G
Eu fiz promessa pra que deus mandasse chuva
D7 G
Pra cresce a minha roça e vingá as criação
D7 G
Pois veio a seca e matô meu cafesá
D7 G ( G D7 G C D7 G )
Matô tudo meu arroz e seco tudo algodão

D G
Nessa coieita meu carro ficô parado
D7 G
Minha boiada carreira quasi morre sem pastá
D7 G
Eu fiz promessa que o primeiro pingo d'água
D G ( G D7 G C D7 G )
Eu moiava as frô da Santa que tava em frente do altá.

D7 G
Eu esperei uma semana, um mês inteiro.
D7 G
A roça tava são seca, dava pena até de vê
D7 G
Oiava o céu, cada nuvem que passava.
D7 G ( G D7 G C D7 G )
Eu da santa me lembrava, pra promessa não esquecê

D7 G
Em pouco tempo a roça ficou viçosa
D7 G
As criação já pastava, floresceu meu cafesá
D7 G
Fui na capela e levei treis "PINGO D'ÁGUA"
D7
Um foi o pingo da chuva...
G
Dois caiu do meu oiá...

Pingo d'água

Regional ou Sertaneja, A música

Pingo d'água - João Pacífico e Raul Torres
Tom: G
(intro) ( G D7 G C D7 G )

D7 G
Eu fiz promessa pra que deus mandasse chuva
D7 G
Pra cresce a minha roça e vingá as criação
D7 G
Pois veio a seca e matô meu cafesá
D7 G ( G D7 G C D7 G )
Matô tudo meu arroz e seco tudo algodão

D G
Nessa coieita meu carro ficô parado
D7 G
Minha boiada carreira quasi morre sem pastá
D7 G
Eu fiz promessa que o primeiro pingo d'água
D G ( G D7 G C D7 G )
Eu moiava as frô da Santa que tava em frente do altá.

D7 G
Eu esperei uma semana, um mês inteiro.
D7 G
A roça tava são seca, dava pena até de vê
D7 G
Oiava o céu, cada nuvem que passava.
D7 G ( G D7 G C D7 G )
Eu da santa me lembrava, pra promessa não esquecê

D7 G
Em pouco tempo a roça ficou viçosa
D7 G
As criação já pastava, floresceu meu cafesá
D7 G
Fui na capela e levei treis "PINGO D'ÁGUA"
D7
Um foi o pingo da chuva...
G
Dois caiu do meu oiá...

No banquinho

Regional ou Sertaneja, A música

No banquinho - João Pacífico

Ontem eu da roça regressei
No banquinho me sentei
E fiquei pra descansar
Fiz um cigarro de palha
Comecei a pensar na vida
Pra depois ir me deitar
Quando entre os galhos
Lá da mata
E o lençol bordado em prata
Pela roça se estender
E com o cigarro feito
E a viola junto ao peito
Me esqueci de adormecer
Fiquei olhando a roça iluminada
A lagoa prateada
E a viola a me entreter
A noite foi uma tranqüilidade
Nem tristeza nem saudade
Vieram me aborrecer

Cabocla Tereza

Regional ou Sertaneja, A música

Cabocla Tereza - João Pacífico e Raul Torres
Tom: A-D
Introd.:(E E/G# A A/C# E D C#m Bm A)

(E E/G# A A/C# E D C#m Bm A)-Solo
Lá no alto da montanha
Numa casa bem estranha
Toda feita de sapé
Parei uma noite o cavalo
Por causa de dois estalos
Que ouvi lá dentro bater
Appei com muito jeito
Ouvi um gemido perfeito
Uma voz cheia de dor:
"Você, Tereza, descansa
jurei de fazer vingança
por causa do meu amor."
Pela fresta da janela
Por uma luizinha amarela
De um lampião quase apagando
Vi uma cabocla no chão
E um cabra tinha na mão
Uma arma alumiando
Virei meu cavalo a galope
Risquei de espora e chicote
Sangrei a anca do tal
Desci a montanha abaixo
E galopando aquele macho
O seu doutor fui chamar
Voltemos lá pra montanha
Naquela casinha estranha
Eu e mais seu doutor
Topei um cabra assustado
Que chamando nós prum lado
A sua história contou

complenta com: A D/A A D/A

A D A
Há tempo eu fiz um ranchinho
E7
Pra minha cabocla morar
D E7
Pois era ali nosso ninho
D E7 A
Bem longe deste lugar
D A
No alto lá da montanha
E7
Perto da luz do luar
D E7
Vivi um ano feliz
D E7 A
Sem nunca isso esperar

Solo: G/B A/C# D G/D D G/D

D G D
E muito tempo passou
A7
Pensando em ser tão feliz
G A7
Mas a Tereza, doutor
G A7 D
Felicidade não quis
G D
Pus meu sonho neste olhar
A7
Paguei caro o meu amor
G A7
Por causa de outro caboclo
G A7 D
Meu rancho ela abandonou

Solo: D A E7 A D/A A D/A

A D A
Senti meu sangue ferver
E7
Jurei a Tereza matar
D E7
O meu alazão arriei
D E7 A
E ela eu fui procurar
D A
Agora já me vinguei
E7
É esse o fim deste amor
D E7
Essa cabocla eu matei
D E7 A
É a minha história, doutor

Cabocla Tereza

Regional ou Sertaneja, A música

Cabocla Tereza - João Pacífico e Raul Torres
Tom: A-D
Introd.:(E E/G# A A/C# E D C#m Bm A)

(E E/G# A A/C# E D C#m Bm A)-Solo
Lá no alto da montanha
Numa casa bem estranha
Toda feita de sapé
Parei uma noite o cavalo
Por causa de dois estalos
Que ouvi lá dentro bater
Appei com muito jeito
Ouvi um gemido perfeito
Uma voz cheia de dor:
"Você, Tereza, descansa
jurei de fazer vingança
por causa do meu amor."
Pela fresta da janela
Por uma luizinha amarela
De um lampião quase apagando
Vi uma cabocla no chão
E um cabra tinha na mão
Uma arma alumiando
Virei meu cavalo a galope
Risquei de espora e chicote
Sangrei a anca do tal
Desci a montanha abaixo
E galopando aquele macho
O seu doutor fui chamar
Voltemos lá pra montanha
Naquela casinha estranha
Eu e mais seu doutor
Topei um cabra assustado
Que chamando nós prum lado
A sua história contou

complenta com: A D/A A D/A

A D A
Há tempo eu fiz um ranchinho
E7
Pra minha cabocla morar
D E7
Pois era ali nosso ninho
D E7 A
Bem longe deste lugar
D A
No alto lá da montanha
E7
Perto da luz do luar
D E7
Vivi um ano feliz
D E7 A
Sem nunca isso esperar

Solo: G/B A/C# D G/D D G/D

D G D
E muito tempo passou
A7
Pensando em ser tão feliz
G A7
Mas a Tereza, doutor
G A7 D
Felicidade não quis
G D
Pus meu sonho neste olhar
A7
Paguei caro o meu amor
G A7
Por causa de outro caboclo
G A7 D
Meu rancho ela abandonou

Solo: D A E7 A D/A A D/A

A D A
Senti meu sangue ferver
E7
Jurei a Tereza matar
D E7
O meu alazão arriei
D E7 A
E ela eu fui procurar
D A
Agora já me vinguei
E7
É esse o fim deste amor
D E7
Essa cabocla eu matei
D E7 A
É a minha história, doutor

Mourão de porteira

Regional ou Sertaneja, A música

Mourão de porteira - Raul Torres e João Pacífico

Lá no mourão esquerdo da porteira
Onde encontrei vancê pra despedir
Tem uma lembrança minha, derradeira
É um versinho que eu lhe escrevi
Vancê, eu sei, passa esbarrando nele
E a porteira bate pra avisar
Vancê não sabe que sinal é aquele
E nem sequer se alembra de olhar
E aqui tão longe eu pego na viola
Aquele verso começo a cantar
Uma saudade é dor que não consola
Quanto mais dói
A gente quer lembrar
No dia que doer seu coração
E uma sodade que eu tanto senti
Vancê, chorando, passa no mourão
E lê o verso que eu nele escrevi

Mourão de porteira

Regional ou Sertaneja, A música

Mourão de porteira - Raul Torres e João Pacífico

Lá no mourão esquerdo da porteira
Onde encontrei vancê pra despedir
Tem uma lembrança minha, derradeira
É um versinho que eu lhe escrevi
Vancê, eu sei, passa esbarrando nele
E a porteira bate pra avisar
Vancê não sabe que sinal é aquele
E nem sequer se alembra de olhar
E aqui tão longe eu pego na viola
Aquele verso começo a cantar
Uma saudade é dor que não consola
Quanto mais dói
A gente quer lembrar
No dia que doer seu coração
E uma sodade que eu tanto senti
Vancê, chorando, passa no mourão
E lê o verso que eu nele escrevi

História de um prego

Regional ou Sertaneja, A música

História de um prego - João Pacífico

Meu filho, corre
Vem sentar aqui comigo
Sou teu pai
Sou teu amigo
Eu quero te aconselhar
Vê na parede aquele prego, ali pregado
Ele sabe meu passado
Mas eu quero é te contar
Naquele prego eu já pendurei meu laço
O arreio do Picasso
Cavalo de estimação
E um par de esporas
Que custou muito dinheiro
E o chapéu de boiadeiro
Que eu lidava no sertão
Naquele prego pendurei muito cansaço
Muito suor do mormaço
E poeira do estradão
E quantas vezes minha mágoa
Eu pendurei
Sentimentos eu guardei
Pra não magoar teu coração
De agora em diante
Eu vou tirar dele meu laço
O arreio do Picasso
E as esporas eu vou guardar
Naquele prego pendure uma sacola
Cheia de livro da escola
E vontade de estudar
Quando amanhã você estiver aqui sentado
Lembrando o nosso passado
Olhando o prego pioneiro
Eu quero que seja um doutor bem afamado
Mas diga em alto brado
Sou filho de um boiadeiro

História de um prego

Regional ou Sertaneja, A música

História de um prego - João Pacífico

Meu filho, corre
Vem sentar aqui comigo
Sou teu pai
Sou teu amigo
Eu quero te aconselhar
Vê na parede aquele prego, ali pregado
Ele sabe meu passado
Mas eu quero é te contar
Naquele prego eu já pendurei meu laço
O arreio do Picasso
Cavalo de estimação
E um par de esporas
Que custou muito dinheiro
E o chapéu de boiadeiro
Que eu lidava no sertão
Naquele prego pendurei muito cansaço
Muito suor do mormaço
E poeira do estradão
E quantas vezes minha mágoa
Eu pendurei
Sentimentos eu guardei
Pra não magoar teu coração
De agora em diante
Eu vou tirar dele meu laço
O arreio do Picasso
E as esporas eu vou guardar
Naquele prego pendure uma sacola
Cheia de livro da escola
E vontade de estudar
Quando amanhã você estiver aqui sentado
Lembrando o nosso passado
Olhando o prego pioneiro
Eu quero que seja um doutor bem afamado
Mas diga em alto brado
Sou filho de um boiadeiro

Goteira

Regional ou Sertaneja, A música

Goteira - João Pacífico

Aquela noite chovia
Que Deus dava
Aquela chuva que varou a noite inteira
No meu telhado
Uma telha se quebrava
Pra eu ouvir a sinfonia da goteira
Em uma lata deitada numa escadinha
Tão esquecida lá no canto onde eu dormia.
Talvez a chuva
Vendo a pobre tão sozinha
Veio alegrar
Cantando aquela melodia
Veja, seu moço,
E eu também passei por isso
Fiquei igual
Àquela lata esquecida
Com a tristeza
Assumi um compromisso
Depois senti que a solidão
Não era vida
Aí então
Pedi a Deus
Que me ajudasse
E que voltasse
A minha doce companheira
Que no meu rancho
Outra telha se quebrasse
Eu tive inveja do carinho da goteira

Goteira

Regional ou Sertaneja, A música

Goteira - João Pacífico

Aquela noite chovia
Que Deus dava
Aquela chuva que varou a noite inteira
No meu telhado
Uma telha se quebrava
Pra eu ouvir a sinfonia da goteira
Em uma lata deitada numa escadinha
Tão esquecida lá no canto onde eu dormia.
Talvez a chuva
Vendo a pobre tão sozinha
Veio alegrar
Cantando aquela melodia
Veja, seu moço,
E eu também passei por isso
Fiquei igual
Àquela lata esquecida
Com a tristeza
Assumi um compromisso
Depois senti que a solidão
Não era vida
Aí então
Pedi a Deus
Que me ajudasse
E que voltasse
A minha doce companheira
Que no meu rancho
Outra telha se quebrasse
Eu tive inveja do carinho da goteira

Gostinho de saudade

Regional ou Sertaneja, A música

Gostinho de saudade - Piraci e João Pacífico

Me dá licença
Estou chegando lá do mato
Moro longe desse asfalto
Atrás da serra é o meu rincão
Lá onde eu moro não existe luz na rua
Moro onde nasce a lua
Que tem nome de serão
E não reparem na minha simplicidade
A grande felicidade
Foi nascer neste lugar
Eu sou herança
Deu um São Paulo ainda menino
Que tem o café mais fino
Do mais rico paladar
Ainda conservo o mesmo rancho
E a moeda
E aquela linda fazenda
Desde que ela se formou
O cafezal
Que acompanha esta riqueza
Guardo bem esta grandeza
Que meu velho pai deixou
Deixou pra mim
Aquela terra abençoada
Toda verdinha plantada
Verdadeira raridade
E um torrador
E seu antigo moinho
Eis porque meu cafezinho
Tem gostinho de saudade