É comum atribuir-se a Lupicínio Rodrigues a autoria de “Matriz ou Filial” um autêntico samba-canção “dor de cotovelo”. Como se não bastasse a linha melódica abolerada sempre associada ao clima de “inferninho”, e o tratamento dramático do tema paixão-rivalidade-arrependimento, a composição ainda seria, não por acaso, lançada por Jamelão, o intérprete maior de Lupicínio: “Quem sou eu / pra ter direitos exclusivos sobre ela / se eu não posso sustentar / os sonhos dela / se nada tenho e cada um vale / o que tem...”
Entretanto o autor desses versos é o santista Lúcio Cardim, personagem da noite, como Lupi, e que integrou em sua época um restrito grupo de compositores paulistas reconhecidos e gravados em outros estados.
As reflexões e tiradas surpreendentes do ambiente de bas fond, dominantes na obra de Cardim, podem ser apreciadas em “Matriz ou Filial”, que ele chegou a gravar, juntamente com outras composições de sua autoria, num elepê (o único em toda a sua carreira) intitulado Obra-prima, em 1978 (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Matriz ou filial (samba-canção, 1964) - Lúcio Cardim
Bm7 E C#m7
quem sou eu pra' ter direitos exclusivos sobre ela
F#m C° Bm7
se eu não posso sustentar os sonhos dela
E7 A7+ C#m5-/7 F#7
se nada tenho e cada um vale o que tem
Bm7 E C#m7
quem sou eu pra' sufocar a solidão da sua boca
F#m C° Bm7
que hoje diz que é matriz e quase louca
E7 A7+ C#m5-/7 F#7
quando brigamos diz que é a filial
D7+ E C#m7
afinal se amar demais passou a ser o meu defeito
F#m C° Bm7
é bem possível que eu não tenha mais direito
E7 A7+ C#m5-/7 F#7
de ser matriz por ter sòmente amor pra' dar
D7+ E C#m7
afinal o que ela pensa em conseguir me desprezando
F#m C° Bm7
se sua sina sempre é voltar chorando
E7 A7+ D7+
arrependida me pedindo pra' ficar
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