quarta-feira, 14 de junho de 2006

Dindi

Comuns na música americana, especialmente em shows da Broadway, as canções que apresentam um recitativo (verse, em inglês) precedendo a primeira parte são raras na música brasileira. Incluem-se nessa categoria alguns sambas-exaltação, valsas e sambas-canção como “Ponto Final”, sucesso de Dick Farney.

Curiosamente, o esquema é utilizado por compositores da bossa nova como Carlos Lyra (“Maria Ninguém”, “Sabe Você”) e Tom Jobim (“Se Todos Fossem Iguais a Você”, “Desafinado”, “Dindi”), embora em algumas dessas canções o prólogo seja desprezado pela maioria dos intérpretes — “Desafinado”, por exemplo, poucas vezes foi gravado na íntegra, constituindo exceções os registros de Jobim nos álbuns Terra brasilis e Tom Jobim inédito.

Em “Dindi”, porém, o recitativo cantado ad libitum, como convém, está presente em quase todas as gravações: “Céu, tão grande é o céu / e bandos de nuvens que passam ligeiras / para onde elas vão / (...) / contando as histórias que são de ninguém / mas que são minhas / e de você também..” Seguem-se o estribilho (“Ai, Dindi / se soubesses do bem que eu te quero.”) e a estrofe (“E as águas deste Rio / onde vão, eu não sei / a minha vida inteira / esperei... esperei...”). Geralmente, os recitativos são compostos no modo menor, abrindo para a relativa maior no estribilho, como ocorre em “Dindi” lá menor, dó maior e mi menor são, respectivamente, as tonalidades do recitativo, do estribilho e da estrofe.

Sylvia Telles, a própria “Dindi” da canção cuja letra é assinada por seu futuro marido, Aloysio de Oliveira, foi a lançadora, responsável pelo sucesso inicial da canção. Esta gravação, realizada para o elepê Amor de gente moça (outubro de 59), tem preciosa 0rquestraçã0 de Lindolfo Gaya, com a harpa sugerindo “as nuvens que passam” e a trompa “o vento que fala nas folhas”.

Sylvia Telles

Fervorosa, envolvente, ela não seria igualada nem pela mesma Silvinha nas três vezes em que a regravou: nos elepês Amor em hi-fi (1960), Reencontro, com o Tamba Trio (1966) e, finalmente, um mês antes de sua morte num acidente automobilístico, no disco gravado ao vivo, em Berlim, com o acompanhamento da violonista Rosinha de Valença. (A Canção no Tempo - Vol.2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34).

Dindi (samba-canção, 1959) - Aloysio de Oliveira e Tom Jobim
Intro: C7+

C7M Bb7M
Céu, tão grande é o céu
C7M Bb7M
E bandos de nuvens que passam ligeiras
A7M C#m7 F#m Bm7 E7/5+
Prá onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
C7M Bb7M
E o vento que fala das folhas
C7M Bb7M
Contando as histórias que são de ninguém
A7M C#m7 F#m Bm7 E7/5+
Mas que são minhas e de você também
C7M Bb7M
Ai, Dindí
C7M Gm7
Se soubesses o bem que eu te quero
F#7/5- F7M F#º Bb7/9 C7M Bb7M
O mundo seria, Dindí, tudo, Dindí, lindo, Dindí
C7M Bb7M
Ai, Dindí
C7M Am7 G#m7 Gm7 F#7/5- F7M F#º
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí
Bb7/9 C7M Am7 F#m7/5- B7
Olha, Dindí, fica, Dindí
Em F#m7/5- B7
E as águas desse rio
Em/G F#m7/5- B7 Em A7
Onde vão, eu não sei
Dm7 A/G Dm/F Dm7 G7 C7M Bb7M
A minha vida inteira, esperei, esperei por vo...cê, Dindí
C7M Gm7
Que é a coisa mais linda que existe
F#7/5- F7M F#º
É você não existe, Dindí
Bb7/9 C7M Dm7 Bb7M
Olha, Dindí, adivinha, Dindí

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