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Aracy de Almeida |
Freqüentadores do Café Nice faziam, vez por outra, incursões a um tal Clube da Malha, que ficava num barracão no alto do Morro de Mangueira. Lá bebiam e confraternizavam com os boêmios do lugar, formando animadas rodas de samba. Como nessas reuniões bebia-se muito, estava sempre a postos um rapaz, empregado da birosca que reabastecia o grupo. Para isso tinha, a todo o momento, que descer e subir o morro, pois a birosca ficava lá embaixo.
O tal rapaz - que se chamava Valdomiro José da Rocha, mas era conhecido como
Babaú - tinha vocação musical e, um dia, aproveitando a presença dos visitantes, mostrou ao compositor
Ciro de Souza um esboço de samba de sua autoria. Ao contrário do que acontece geralmente, o samba do principiante era muito bom: "Ai, Ai meu Deus / tenha pena de mim /(...)/ trabalho não tenho nada / não saio do miserê / ai, ai meu Deus/ isso é pra lá de sofrer...".
Então, Ciro (segundo depoimento que realizou para o Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em 09.08.84) deu uma ajeitada nos versos, acrescentou-lhe uma segunda parte e logo o samba do Babaú estava fazendo sucesso no carnaval, cantado por
Araci de Almeida. Tanto sucesso que até provocou um protesto de
Sílvio Caldas, inconformado com o fato de Ciro de Souza ter entregue a música a Araci. Uma curiosidade: o nome original do samba era "Ai, Ai Meu Deus", que foi substituído por "Tenha Pena de Mim" por recomendação da censura, que vetava a palavra "Deus" em títulos de canções.
Tenha Pena de Mim (samba,
1938) - Ciro de Souza e Babaú
Ai, ai meu Deus / Tenha pena de mim!
Todos vivem muito bem / Só eu quem vive assim
Trabalho, não tenho nada / Não saio do miserê
Ai, ai meu Deus / Isso é pra lá de sofrer Sem nunca ter / Nem conhecer felicidade
Sem um afeto / Um carinho ou amizade
Eu vivo tão tristonha / Fingindo-me contente
Tenho feito força / Pra viver honestamente
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