Boêmio e conquistador inveterado, Lupicínio Rodrigues (foto) várias vezes transformou em samba episódios de sua vida sentimental. Assim, por exemplo, "Se Acaso Você Chegasse" é uma espécie de mensagem / sondagem que dirige a um amigo, Heitor Barros, de quem havia tomado a namorada. Lupicínio sabia que agira mal e temia perder o amigo, que muito prezava.
Para evitar o rompimento, procurava convencê-lo de que a amizade dos dois era mais importante do que a mulher infiel ("Será que tinha coragem / de trocar a nossa amizade / por ela que já lhe abandonou..."), ao mesmo tempo em que lhe comunicava um fato consumado ( "eu falo porque essa dona / já mora no meu barraco...") e de difícil reversão ("de dia me lava roupa / de noite me beija a boca / e assim nós vamos vivendo de amor"). A verdade é que o poeta queria ficar com a mulher e o amigo, feito que acabou conseguindo, pois Heitor gostou do samba e perdoou a traição.
Composto em 1936, de improviso, na calçada do Café Colombo, em Porto Alegre, "Se Acaso Você Chegasse" é um dos melhores sambas de todos os tempos. Possui ainda o mérito de ter projetado nacionalmente Lupicínio e Ciro Monteiro, seu intérprete inicial, em 1938, e Elza Soares, em 1959.
Se acaso você chegasse (samba, 1938)
Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins
G7 C7M F7
Se acaso você chegasse
C7M F7
No meu chatô encontrasse
Em7 A7
Aquela mulher
Dm7 A7
Que você gostou
Dm7 Dm/C
Será que tinha coragem
G7/B G7/F
De trocar nossa amizade
Dm4/G G7
Por ela que já
C7M Dm4/G G7/13
Lhe abandonou
C7M Gm7
Eu falo porque esta dona
C7/4 C7/13
Já mora no meu barraco
Gm7/9 C7/13
À beira de um regato
F7M/6 C7/13
E um bosque em flor
F7M/6 Fm6
De dia me lava a roupa
Em7 A7
De noite me beija a boca
Dm7 G7 C6/9
E assim nós vamos vivendo de amor
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